A MILENÁRIA PRESENÇA DOS JUDEUS NA ITÁLIA

As autoras Anna Rosa Campagnano e Sema Petragnani apresentam, em 'A milenária presença de judeus na Itália', a história dos judeus italianos. Mas não se trata de um elenco cronológico ou de uma simples descrição factual. O livro é, antes de tudo, uma síntese inédita e interessante da trajetória plurissecular de um povo na luta pela vida e pela reconquista da liberdade, mil vezes perdida e negada, mas reconquistada e reencontrada no fluxo e no refluxo da história. Reconstruindo essa ousada trajetória - que vai do Império Romano até os nossos dias -, as autoras percorrem os momentos cruciais da história nos quais e por meio dos quais os judeus italianos buscaram preservar sua identidade, tradição e religiosidade. O livro contempla, ainda, um breve e significativo capítulo sobre o fenômeno da imigração ítalo-judaica no Brasil, a criação da 'Colônia Mussolini' (nome irônico com o qual os judeus italianos designaram o próprio êxodo forçado), as referências à versão tupiniquim do movimento fascista, anticomunista e anti-semita, caracterizado na Ação Integralista Brasileira, fundada em 1932, e nas tendências nazifascistas da era Vargas. Quando o Brasil, então coagido pelos Estados Unidos, declarou guerra à Itália, em janeiro de 1942, os italianos que aqui residiam foram declarados como 'súditos inimigos'. Escrito em linguagem simples e direta, este estudo traz também uma análise comentada e amplamente documentada da presença e da contribuição judaicas para o desenvolvimento científico, socioeconômico e cultural do que se convencionou chamar de civilização ocidental. As vicissitudes dos judeus italianos, a partir da promulgação das leis raciais em 1938 e da formação dos campos de concentração italianos para deportar os prisioneiros rumo a Auschwitz, constituem também um dos aspectos salientes da presente obra. As relações entre os judeus e a Igreja Católica receberam amplo destaque por parte das autoras, uma vez que a Igreja foi, ao longo dos séculos, com raras e honrosas exceções, a maior responsável pela difusão e cristalização do anti-semitismo na Europa desde a Idade Média. Enfim, o silêncio criminoso de Pio XII em relação ao extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial é examinado com rigor e contraposto, de forma oportuna, à recusa de seu predecessor, o papa Pio XI, em aderir pura et simpliciter à ideologia nazista. A segunda parte do livro apresenta um conjunto emocionante e contundente, composto de 36 depoimentos de judeus italianos que imigraram para o Brasil para fugir das perseguições anti-semitas na Itália.