INSTINTO ASSASSINO

Jason via-se naquela situação de filme e perguntava-se o que ele havia feito de errado. Ele sabia a resposta. Tudo havia começado 10 meses atrás quando perdeu o controle do carro ao voltar para casa depois de um dia normal de trabalho. O socorro não demorou a chegar. O motorista do guincho era de poucas palavras, mas Jason, como bom vendedor, deu um jeito de entabular uma conversa. Quando percebeu, já estava convidando o recém-conhecido para jogar softball com os companheiros de empresa. Nos dias seguintes, Jason conseguiu um emprego para o novo amigo na área de segurança da empresa. Kurt Semko havia saído das Forças Armadas por conduta desonrosa, mas Jason responsabilizou-se pela sua contratação. Kurt tinha lutado no Afeganistão e no Iraque e encarava a vida como se estivesse em uma batalha. A convivência com Kurt fez bem a Jason. Ele passou a fazer exercícios, deixou um pouco de lado os livros de auto-ajuda em que era viciado e passou a desenvolver algo que seu chefe considerava fundamental em um vendedor, o instinto assassino. Depois de conhecer Kurt, a vida de Jason deslanchou. Ele conseguiu, com a ajuda de informações obtidas pelo amigo de formas não muito claras, ser promovido. Além disso, em todos os negócios em que entrava acabava sempre tendo vantagens sobre os concorrentes e os adversários normalmente enfrentavam contratempos. Algum tempo depois, Jason começou a perceber que nem tudo estava acontecendo por acaso. Kurt costumava dizer que faria qualquer coisa para ajudar Jason no que fosse preciso, depois de ele ter conseguido o emprego na Entronics, mas aquilo parecia estar indo longe demais. Jason não queria mais informações de origem suspeita, tampouco queria que Kurt fosse a sua casa com tanta freqüência. Ele já havia conquistado Kate, consertando pequenos problemas domésticos, como o cabo da tevê ou o piso da escada. Jason queria tirar Kurt de sua vida, mas mal sabia que era tarde demais. O amigo havia se tornado o pior inimigo imaginável.