SUBJETIVIDADE TRANSCENDENTAL E ALTERIDADE

A obra do professor Evaldo Kuiava, que vem a público, é fruto do desenvolvimento consistente do pensamento da alteridade no Brasil, bem como das necessárias críticas aos paradigmas de pensamento da modernidade. Neste caso, de um lado, a força da obra crítica de Levinas, como um dos auges do pensamento filosófico mundial; de outro, a importância ética e teórica de um Kant, mas onde se demonstram mais uma vez as grandes insuficiências do pensamento tradicional diante da contemporaneidade. Um embate de fundamentações as mais caras para o saber ocidental, ao que o professor Evaldo faz passar pelos novos crivos éticos e pelas demandas do tempo, já com paradigmas filosóficos não mais idealistas ou apenas especulativos-transcendentais (metafísicos). , como um estudo sobre a questão do outro em Kant e Levinas, é uma empreitada que começa analisando profundamente a estrutura da subjetividade de modelo kantiano, na dimensão das consequências teóricas e também práticas. O que o autor demonstra contundentemente, desde a chave de leitura da alteridade (o outro como outro, e as implicações da subjetividade heterônoma - que não é apenas identidade, razão e liberdade), é que no esquema kantiano da subjetividade teórica -que tem como centro essa panacéia que tentou ser o transcendental, o "aparelho" gnosiológico do ego- aí, a alteridade ainda é escamoteada tout court. A saber, a inteligibilidade do humano, o sentido -eis a questão por excelência -todo ele é levado à identidade ou à identificação do mesmo, do idem, em última instância, dando base à constituição do eu como centro. Nesse âmbito, a busca transcendental, o lugar da produção da verdade/realidade/racionalidade, posta como Eu-subjetividade, ou seja como consciência, situa-se na linha cartesiana e na do Iluminismo, onde acompanhamos o "eu que amarra todas as experiências" de significação, mesmo quando busca simplesmente estabelecer as "condições de possibilidade a priori" de todo conhecimento possível. Eu e outrem, nesse contexto, são efetivados pelo prisma do fenômeno, do dado no esquema transcendental, e mesmo noconceito e no sistema, já que aqui se inscreverá a totalização megalomaníaca hegeliana.