A FORÇA DO PASSADO

O narrador de A força do passado, novo livro de Sandro Veronesi, considerado o maior jovem talento da literatura italiana, é Gianni Orzan. Quarentão, Gianni é um bem-sucedido escritor infanto-juvenil, cujo personagem Pizzano Pizza transformou num best-seller. É bem casado, tem um filho de oito anos e nenhuma preocupação. Ou melhor, só uma: seu pai morreu há duas semanas e, como nunca se deu bem com ele, isso lhe dá um certo sentimento de culpa. Mas vai passar. Tudo está indo bem, até que um dia ele pega um táxi clandestino que o leva pelas ruas de Roma como se fosse um trem desgovernado. O motorista tem um revólver na cintura e Gianni está pronto para pular do carro quando o taxista diz a frase que mudaria sua vida: "Então, finalmente Franceschino aprendeu a andar de bicicleta..Franceschino, ou melhor, Francesco, é o filho de Gianni. E o fato de ele ter aprendido recentemente a andar de bicicleta era um segredo que só o menino, seus pais e seu falecido avô sabiam. Por isso, o pobre escritor desconfia estar diante de um maníaco que anda espionando sua vida e que acaba de seqüestrá-lo. Ele entra em parafuso e foge do táxi sem ouvir mais nada. Com medo, ele imediatamente leva a família para um hotel e, depois, para uma outra cidade, onde ficam escondidos. Seu descontrole é risível, mas logo ele terá motivo para ficar ainda pior.Num belo dia, o tal taxista bate na porta de Gianni pedindo desculpas pelo susto e dizendo que é o melhor amigo de seu pai. Para provar o que diz, o desconhecido conta vários detalhes íntimos da família de Gianni, que o deixa entrar. Então o estranho lhe faz uma revelação inusitada: o finado pai de Gianni não era italiano, mas russo; não se chamava Maurizio Orzan, mas Arkady Fokin; não era general do exército, mas um espião da KGB infiltrado há quase 50 anos no serviço secreto da Itália; e embora fosse à missa todos os dias e parecesse fascista, era comunista radical. E tem mais: Gianni tem esse nome por causa dele, que se chama Gianni também. Impossível acreditar!Mas a riqueza de detalhes é tão grande que Gianni fica confuso. Como seu pai poderia ser tão absurdamente diferente do que ele imaginava? Diante desse baque, o escritor, coitado, caminha a passos rápidos rumo à paranóia. A cabeça não pára: se seu pai era outra pessoa, então seu próprio passado é desconhecido, o mundo é uma ilusão e não se pode confiar em ninguém.