Sinopse
Considerado um dos maiores escritores brasileiros vivos, Silviano Santiago convida o leitor, em O falso mentiroso, a adentrar uma imensa sala de espelhos em que tudo pode ser - e não ser - o que parece. Todas as dicotomias políticas e econômicas da vida contemporânea são trabalhadas pela criação romanesca, com o fim de nos dar uma interpretação bem-humorada, pessimista e impiedosa da segunda metade do século XX. Não existe melhor guia para se abrir as portas do novo milênio.O autor explora as contradições da modernidade através do seu duplo, Samuel Carneiro de Souza Aguiar, um carioca da gema que, depois de mil e uma aventuras picarescas no Colégio Andrews, torna-se pintor, transpondo para a tela, num teimoso e inusitado exercício de cópia, as belíssimas gravuras de Goeldi. Às vezes, a cópia pode ser tão ou mais autêntica do que o original – não é este um dos paradoxos tanto do pensamento, quanto da ciência e da indústria latino-americanos?Silviano parte de uma única e obsessiva informação. A de que o narrador do livro, Samuel, podia ser - e podia não ser - filho natural do casal formado por Eucanaã – dono de lucrativa fábrica de camisas-de-vênus, que se apresenta à sociedade carioca como advogado de sucesso – e por Donana, estéril dona-de-casa carola. Os nomes bíblicos são mais uma peça num quebra-cabeça que não parece levar a lugar algum, a não ser à reflexão sobre os tempos bíblicos que estamos revivendo. Do mesmo modo, os diálogos do industrial carioca com o renascentista Gabriel Falópio, inventor da camisa-de-vênus, e com Malthus, responsável no século XIX pela teoria sobre o controle da natalidade, são contrapontos que incitam o leitor a repensar questões atualíssimas.