CICLO BÁSICO EM SÃO PAULO

O regime de seriação introduzido na escola moderna carrega consigo, desde o berço, os ranços racionalistas e disciplinadores então valorizados pela nascente sociedade burguesa industrial. Com a evolução do capitalismo e das exigências postas à formação, essa escola, com seus eficientes mecanismos de exclusão, está em xeque. O sistema organizado em ciclos, se adotado em favor da população, pode contribuir para livrar-nos de alguns desses ranços, em particular das práticas arcaicas de reprovação.Porém, tanto nos meios acadêmicos como entre os profissionais do ensino e também nas análises e reivindicações sindicais do magistério, ouve-se com certa freqüência o argumento em defesa da qualidade do ensino que propõe a extinção dos ciclos e a consequente volta ao sistema seriado reprovador -o que pode resultar num grande retrocesso, seja no processo complexo e inconcluso de mudanças na avaliação dos alunos, seja no movimento em defesa do ensino publico, tão desencontrado com os interesses da política educacional neoliberal. Assim, é oportuna esta coletânea, que busca resgatar criticamente as propostas de organização escolar e reforma curricular, implementadas no Estado de São Paulo de 1983 a 1994, ressaltando indicadores da nova concepção de educação subjacente ao regime de ciclos e enunciando a evolução dos processos de educação continuada de professores. Na primeira parte, Joao Cardoso Palma Filho apresenta a reorganização do ensino fundamental (O Ciclo Básico e a Reforma Curricular) na rede estadual de ensino de São Paulo durante o governo Montoro (1983- 1986). Na segunda parte, Marilia Claret Geraes. Duran analisa as principais questões do complexo processo de implantação do Ciclo Básico nas escolas da rede estadual paulista entre 1983 e 1994, vivido por pais, alunos, profissionais da educação e, mais amplamente, por toda a sociedade. Na terceira parte, Maria Leila Alves discute a política de formação continuada dos profissionais do ensino, desencadeada pela implantação do Ciclo Básico entre 1983 e 1994. Um segundo artigo da mesma autora, à guisa de conclusão da coletânea, retoma os fundamentos políticos, não apenas do projeto do Ciclo Básico, mas dos projetos sociais em geral, analisando-os a partir da cultura pedagógica brasileira, impregnada pelo ideário conservador, e também das intenções de mudança ou manutenção da ordem social em consonância com os grupos que propõem as políticas.