DO "TEMPO" ELEMENTOS PARA UMA FILOSOFIA DO VIVER

Seria necessário pensar o "tempo"? Seria necessário pensar o "tempo", já que se sabe, desde os gregos, que a divisão segundo os tempos da conjugação torna sua existência inapreensível? E que, dominando o curso da vida, ele nos leva a não mais poder imaginá-lo senão como uma travessia, entre um começo e um fim, encaminhando-nos imediatamente em direção ao fim? A despeito do convite repetido pelos poetas: "colhe o dia", continuamos a não conceber o que pode ser viver no presente... É por isto que tentei, passando pelo pensamento chinês, sair desta grande dobra do "tempo". Pois a China pensou o "momento" da estação e a "duração" dos processos, mas não um envelope que contivesse igualmente ambos e que seria o tempo homogêneo-abstrato. Ao fazer isto, ela nos convida a reler a fórmula de Montaigne: "viver segundo o momento", assim como a nos debruçarmos sobre estas noções correntes, mas que a filosofia, indiferente ao ser de estação, quase não explorou: a "oportunidade" do momento e a disponibilidade, oposta à antecipação. Tomarei, pois, aqui, à guisa de ensaio, o partido da sabedoria: se viver não deveria ser pensado segundo a ocorrência do momento e não como intervalo, e, conseqüentemente, não deveria escapar do grande drama "existencial" que a filosofia organizou de modo tão poderoso ao erigir o "tempo". (F./J.)