Sinopse
A leitura do livro de Armando Ferrari proporciona uma viagem no tempo. Sempre presente como elemento central da existência humana, a questão do tempo surge aqui de maneira ousada e vigorosa. Na trajetória de seu pensamento, formulado e sistematizado de forma consistente há várias décadas, Ferrari busca incansavelmente uma psicanálise que considere a relação mente/corpo - como ele propõe em Eclipse do corpo, a mente tendo no corpo seu objeto originário, estruturando-se para conter, transformar e significar as intensas exigência corporais. Em A aurora do pensamento, Ferrari desenvolveu e ampliou essa hipótese, colocando a gênese do pensamento nos entrelaçamentos criados entre experiências físicas e psíquicas e propondo a questão da harmonia e da desarmonia entre mente e corpo como ponto de vista a ser privilegiado na clínica psicanalítica. Em Vida e tempo - reflexões psicanalíticas, essas discussões são retomadas, tendo o tempo como elemento central. Não apenas o tempo natural, objetivo, absoluto, cronológico, mas sobretudo o tempo relativo, circular, subjetivo, mítico. Aliás, não poderia ser diferente, já que o corpo, realidade primordial para Ferrari, expressa claramente as marcas da inexorável passagem do tempo. Neste livro, Ferrari trata com coragem do limite que o tempo impõe: a morte. Daí nasce a proposta de atendimento psicanalítico aos pacientes terminais, no sentido de "ajudá-los" a morrer, repropondo, assim, uma possibilidade de harmonia entre corpo e mente, entre querer viver e reconhecer e aceitar a chegada da morte. Também é o tempo que atua sobre a mente do analista, criando a necessidade de novas elaborações. E para "cuidar" dessa mente, o autor propõe a "auto-análise com testemunhas", em que um colega analista teria a função de auxiliar o solicitante a recuperar sua capacidade de auto-análise. Como? Ferrari sugere que o colega trabalhe utilizando sempre uma abordagem intrapsíquica, e não transferencial, procurando evitar interferências exageradas e abrindo sempre novas possibilidades de percepções e escolha. Outro tema que recebe uma abordagem cuidadosa é o sono, necessário para permitir não apenas o acesso ao sonho, mas também a possibilidade de uma relação mais harmônica entre mente e corpo, além de um contacto genuíno com os diversos ritmos do humano, em uma heterocronia que vai alem do orgânico.