A GRANDE QUESTÃO

Os pais, a avó, o gato, o soldado, a pedra, o marinheiro... cada um tem sua resposta para a "grande questão": qual seria o sentido da nossa existência? Por que e para quê nascemos e vivemos? "É para festejar seu aniversário que você está aqui na Terra" - quem responde primeiro é o irmão. Em seguida, a pergunta parte do núcleo familiar e se expande, levando a criança a um passeio pelo mundo. E este "entrevistador" do livro acaba sendo de certa forma o leitor, uma vez que os personagens se dirigem a um "você" que não se faz presente na história. O curioso é que a "grande questão" também não aparece expressa no livro, há apenas as respostas de cada um, reforçando esta idéia de que os entrevistados conversam de fato é com quem está lendo. Assim, à interrogação universal, que é sempre a mesma, vemos corresponderem infinitas soluções; modos de vida a serem inventados por cada um. E o que confere ainda mais riqueza ao livro é o diálogo entre as múltiplas vozes e a pluralidade de texturas das ilustrações. Wolf Erlbruch trabalhou basicamente com a colagem de diferentes papéis. As imagens dos entrevistados ocupam quase a página inteira, são figuras preenchidas por materiais do dia-a-dia: folhas de caderno quadriculadas ( o gato), papel kraft (o piloto, a avó), cartão (o comilão), pautas musicais (o pássaro) e apenas alguns leves toques de giz de cêra e guache. As crianças são convidadas pouco a pouco a pensar sobre sua identidade. Um aprendizado de que a construção de seu lugar no mundo se faz no contato com outros modos de existência. No final do livro, há até uma folha em branco para o leitor anotar suas próprias respostas à medida que vai crescendo. Poderíamos parar por aqui, mas quem quiser ir mais fundo encontrará no livro de Wolf Erlbruch uma sutil introdução poética às grandes questões da filosofia, como morte, destino, papéis sociais, relacionamentos humanos. Tudo de modo muito delicado e despretencioso, com a simplicidade da criança que se questiona acerca da vida pela primeira vez.