ESCRAVOS E LIBERTOS NAS IRMANDADES DO ROSÁRIO
Celia Maia Borges
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Sinopse
A convivência de homens e mulheres de diferentes matrizes culturais nas irmandades implicou na construção de uma linguagem comum, cujo eixo estruturador foi a cultura da sociedade dominante baseada na organização religiosa católica e no barroco. Essa linguagem, como é natural, passou por uma necessária rearticulação das categorias básicas de entendimento da realidade. Aos ser fundida com outras componentes culturais, a estética barroca iria ser um elemento de peso nos rituais das confrarias. A sua linguagem estética expressa-se no vestuário, na gestualização das artes dramáticas, nas imagens carregadas de expressões de sofrimento, na estátuária e na música plena de dramaticidade. Os homens negros reproduziram, deste modo, nos rituais das organizações fraternais essa ordem estética carregada de significados e, involuntariamente, reproduzida de uma ideologia religiosa. [...] A música "colonial" foi um fator-chave pra explicar a integração dos homens no culto e a sua inserção na ordem do sagrado. E isso, porque a música teve o dom de penetrar nos indivíduos e moldar a estrutura de sua linguagem sonora, carregando-a de sentido religioso. Uma melodia que se impõe e converte ao divino, numa experiência de introspecção, é naturalmente capaz de conformar representações religiosas e inculcar crenças e atuar como veiculadora de uma ordem, que tende aos poucos a ser, ela mesma, apreendida como sagrada.