UM DIA NA VIDA DE IVAN DENISOVICH

Ivan Denisovitch Chúkhov é um preso político russo, condenado a uma prisão do gulag soviético, o campo 104, na Ucrânia. Apesar de estar inocente foi acusado de espionagem a favor dos alemãos durante a segunda guerra mundial. Tal como o título explica, a ação desta novela - da obra de estreia de Aleksandr Soljenitisin - decorre num único dia. Um dia que começa ainda pior do que os outros: «Chúkhov, que sempre se levantava ao toque da alvorada, hoje não se levantou. Já desde ontem que não se sentia bem, com uns calafrios, umas dores no corpo. E durante a noite não tinha conseguido aquecer-se. (...) Só desejava que a manhã não chegasse.» A manhã chega e o atraso de Chúkhov será punido: vai ter de lavar o soalho da sala da guarda, de castigo pelo atraso, ainda antes de poder passar pelo posto médico. Ao longo do livro hão-de ser descritas punições bem mais pesadas mas a humilhação é um dos aspetos mais presentes ao longo da obra. Os prisioneiros, por exemplo, são tratados pelo número e não pelo nome. Os sapatos que Ivan Denissovitch calça são um número abaixo do tamanho apropriado para os seus pés. O frio é insuportável, a comida escassa. Este terrível retrato do gulag foi a primeira obra a denunciar as condições nos campos de prisioneiros soviéticos e foi publicado em 1962, durante a era Krushev, numa altura em que foi permitida a denúncia do estalinismo. «Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch» tornou-se um livro-símbolo e é agora, pela primeira vez, traduzido diretamente do russo em edição portuguesa. Aleksandr Soljenitzin, o autor, sabia do que estava a falar: ele próprio esteve preso no gulag, antes e depois da publicação da obra.