Sinopse
O compêndio de Ciências Politicas Nelson Nery Costa (Presidente da OAB/PI), aparece na travessia do milênio. Pelo seu sentido e conteúdo temático, é de excitar algumas reflexões sobre a crise da Ciência Política; crise deflagrada desde meados do século XX, e que se acha ainda bastante longe de chegar ao fim.
Com efeito, as posições hostis no campo da Ciência Política são as mesmas, e idêntica é a obstinação dos litigantes, não havendo, por enquanto, vencidos nem vencedores. Mas a controvérsia prossegue, abafada, lenta, provavelmente menos estrepitosa que nas passadas décadas. Denota contudo já alguns sinais de fadiga e estagnação para não dizermos de exaustão.
Ciência do poder, dos fenômenos políticos, da pólis, do Estado, das relações de autoridade e obediência, das magnas decisões e formulações normativas da conduta
humana, dos comportamentos políticos e sociais em face da instituição estatal, das relações internacionais, das formas de governo, dos partidos, dos grupos de pressão,
da opinião pública e, finalmente, das ideias e das teorias de organização política da sociedade, a Ciência Política não pôde sair até agora da crise de sua formação. A crise, segundo alguns, estalou há mais de dois mil anos desde a decadência da pólis grega; segundo outros, é fenômeno moderno, recente, quase concomitante ao suposto renascimento daquela disciplina científica, por obra do indefesso labor dos cientistas políticos norte-americanos, designadamente na segunda metade do século passado.
Todavia, com alguma cautela, poder-se-á dizer que a Ciência Política, concebida naquela amplitude, caminha já para uma síntese ou para uma combinação e convergência de resultados, extraídos dos distintos ramos e disciplinas autônomas do saber político.
As antigas ciências políticas, tão em voga durante determinado período na evolução da Ciência Política, constituiriam dessa maneira parte de uma trajetória que vai
da pluralidade à unidade, da dispersão à concentração, da transitoriedade à permanência. Mas sempre em busca da instauração definitiva de um conhecimento provido de inteira cientificidade, o que, aliás, parece bastante longe de alcançar.
Envolta, como sempre, num véu de dúvidas e hesitações acerca do método, do objeto, da sistematização de conteúdo, da autonomia científica, da incorporação ou rejeição de valores, a Ciência Política tem pela frente problemas medulares, de imenso alcance, que uma vez resolutos hão por certo de definir-lhe afinal os rumos, a
natureza e, sobretudo, a destinação.