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REMEMORAÇÃO: ARTE RELIGIOSA COMO DOCUMENTO HISTÓRICO

Ana Cristina Carvalho
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Sinopse
A sala do antigo refeitório do convento da Luz, hoje espaço museológico, abriga a exposição Rememoração: arte religiosa como documento histórico, com obras de arte sacra adquiridas pelo Governo do Estado de São Paulo para formar duas das mais significativas coleções do gênero no Brasil: a dos Palácios do Governo – dos Bandeirantes, em São Paulo, e Boa Vista, em Campos do Jordão – e a que deu origem ao Museu de Arte Sacra de São Paulo, em 1970.Expostas lado a lado pela primeira vez nos ambientes históricos do convento, essas coleções têm muitos aspectos em comum do ponto de vista dos critérios de aquisição, características tipológicas, estilísticas, de procedência e de origem. Nessa direção, a exposição traz um recorte para possibilitar ao visitante o conhecimento e maior compreensão do conjunto adquirido, entre 1969 e 1970, por um grupo de especialistas, coordenado por Luís Arrobas Martins, então secretário de Estado da Fazenda, que reuniu obras não apenas para decorar os palácios governamentais, mas com a clara intenção de formar um importante patrimônio acessível ao público. Além do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios, é nessa época profícua que o Governo do Estado também constituiu o Museu de Arte Sacra e o Museu da Casa Brasileira.Desse modo, por meio de doações e aquisições, foram formadas, nas décadas de 1960/70, as coleções dos Palácios do Governo, com peças de grande qualidade artística, preservando-as e atribuindo-lhes novos significados em sua função museológica. Dentre as 3.500 obras desse acervo, a coleção de arte sacra destaca-se por seu valor artístico e estético e seu significado religioso, reunida em um período em que era prática comum ornamentar” os ambientes domésticos – das mais simples às mais nobres residências – com arte religiosa, especialmente com produções do período colonial brasileiro. A razão não era apenas a devoção católica, a exemplo dos oratórios e imagens de santos, mas o valor estético das peças, que representavam importantes movimentos artísticos da história da arte, principalmente o Barroco e o Rococó.A apresentação das obras na exposição, portanto, não segue uma ordem cronológica ou tipológica, mas, acima de tudo, pretende mostrar que, embora haja uma grande diversidade entre as duas coleções, há um fio condutor para a formação de ambas.Nos Palácios do Governo, por exemplo, foram reunidas peças de arte sacra de tipologias diversas, como mobiliário, fragmentos de altar provenientes de igrejas demolidas ou modernizadas, objetos litúrgicos em metal, raras imagens escultóricas em madeira e terracota e algumas pinturas. Do mobiliário, destacam-se grandes arcazes de sacristia, bancos, baús e belíssimos oratórios, dos séculos XVII ao XIX; dos objetos, a prataria, como lampadários, tocheiros e castiçais; além das pinturas de temas religiosos, que ornamentaram tetos e paredes de capelas e igrejas coloniais brasileiras. Hoje, musealizadas e preservadas, essas obras retornam do ambiente doméstico palaciano para serem expostas no Museu de Arte Sacra, no convento da Luz, onde a atmosfera religiosa, mística e reflexiva está presente em sua arquitetura e espaço interno, evocando a memória de suas origens e de sua história.Preservar esses bens patrimoniais que carregam uma grande carga simbólica é reconhecer uma imensa responsabilidade não apenas em garantir a preservação de sua conservação física, mas, principalmente, em não deixar perder a articulação das relações históricas e religiosas entre eles. Nessa perspectiva, esta exposição de coleções dos Palácios do Governo e do Museu de Arte Sacra é um olhar às suas origens, que desvenda significados, critérios de aquisição e seu valor artístico. Agrupadas por meio de uma expografia constituída de três núcleos de ideias, elas evocam a memória de seus usos originais. Assim, a intenção é também orientar uma leitura de ressignificação do espaço histórico que as acolhe, evidenciando traços arquitetônicos e fatos históricos ao inferir a existência do espaço – como na imagem fotográfica do ambiente ainda como refeitório das irmãs concepcionistas – e perceber os sinais da memória da casa – como nos armários em madeira embutidos nas paredes e nas janelas peculiares com muxarabis, elemento arquitetônico de origem árabe e comum na época colonial, que dava privacidade ao espaço.O primeiro núcleo da mostra procura colocar em diálogo a questão da formação das duas coleções, evidenciando similaridades temáticas e de tipologias entre as obras, bem como de origens – Portugal e Brasil, na época colonial – e procedências. Procura-se também ressaltar as características técnicas peculiares de materiais e de estilo das produções artísticas e religiosas. Destacam-se obras importantes, como anjos, tocheiros e imagens, entre elas São José de botas, atribuída a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, do Barroco mineiro, dos Palácios do Governo, ao lado de Nossa Senhora das Dores, do mesmo artista, do Museu de Arte Sacra.O segundo núcleo conceitual trata de provocar a reflexão sobre o deslocamento do objeto do espaço religioso para o museu, que preserva a herança cultural material, no universo de suas funções e no campo do simbólico. A seleção e a interpretação dessas obras nutrem-se da pesquisa histórica sobre as origens e procedências, fatos contextuais e sua interface com as implicações do deslocamento de objetos materiais nos processos de rememoração que ocorrem num universo que é tanto de palavras como de coisas” , e o questionamento da assimetria entre as representações mentais e materiais como mediadoras da memória. Logo, foram selecionadas peças consideradas objetos históricos em sua categoria sociológica e documentos históricos em sua dimensão cognitiva e suportes da informação histórica. Os objetos litúrgicos e o mobiliário sacro – como o banco, os arcazes de sacristia e a cama conventual –, por exemplo, não evocam o seu valor de uso prático, ou intrínseco, mas o fato de terem sido atores de acontecimentos históricos e participado da vida de personagens relevantes da história social, cultural e religiosa; ou seja, objetos mediadores do discurso do espaço e do tempo, estabelecendo uma relação de ordem existencial e não cognitiva, de contato com a realidade transcendente, do visível e do invisível. Eles reforçam a necessidade de contiguidade e o que do objeto resta em nós no tempo presente, na nossa memória. Assim são as relíquias e os objetos históricos. O decurso do tempo é o que os qualifica.O terceiro núcleo apresenta peças que representam a devoção católica popular no Brasil desde os tempos coloniais e a religiosidade nos ambientes domésticos, por meio de objetos de arte popular e erudita, oratórios, imagens de santos e procissões, até representações de temas religiosos por artistas brasileiros, não só do período colonial, mas especialmente do período moderno. Entre as preciosidades, estão Estudo de Procissão I e Religião Brasileira I, de Tarsila do Amaral, e oratórios dos séculos XVIII e XIX, alguns provenientes de capelas de propriedades rurais em São Paulo, Bahia e Minas Gerais, nos estilos Barroco e Rococó.O Acervo Artístico-Cultural dos Palácios possui obras de artistas importantes no cenário das artes coloniais tanto na pintura quanto na escultura, que se destacam pelas suas composições, movimento e, algumas delas, pela ingenuidade da representação, apesar do fato de que, na pintura religiosa colonial, até o fim do século XVII, os artistas tivessem que seguir os modelos europeus, com grande interferência da Igreja. Era, portanto, mais difícil notabilizar-se pela criatividade, principalmente em uma sociedade escravocrata e preconceituosa. Dessa época, estão expostas, entre outras, duas imagens de barro cozido, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição, ambas do beneditino fluminense frei Agostinho de Jesus, que trabalhou no Mosteiro de São Paulo e no Mosteiro de São Bento da Bahia, em Salvador, onde foi aluno do mestre português frei Agostinho da Piedade.No século XVIII, entretanto, alguns artistas assimilaram o preparo técnico vindo da Europa, dedicando-se à arquitetura, pintura de telas e de tetos de igrejas e conventos, serviços de douramento e entalhe para a confecção de imagens, produzindo trabalhos originais e de formas plásticas que formaram os estilos Barroco e Rococó muito próprios das escolas mineira, baiana e pernambucana. É desse século grande parte das obras da coleção de arte sacra dos Palácios do Governo, muitas de autores desconhecidos, destacando-se algumas raridades de artistas de Minas Gerais, como A Flagelação de Cristo, de Manoel da Costa Ataíde, e o par de anjos tocheiros de Francisco Vieira Servas, português que produziu e faleceu naquele estado. Faz parte também desse conjunto o fragmento com três anjos atribuído a Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim, artesão e entalhador que desenhou e executou importantes obras, especialmente no Rio de Janeiro, como talhas para retábulos, imagens de santos, lampadários e mobiliário.Ao dialogar com a coleção do Museu de Arte Sacra no convento da Luz, esse recorte do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios procura traduzir o espírito nacionalista vigente na época, no sentido de valorização da produção brasileira colonial.

Categoria
Editora Museu de Arte Sacra
ISBN-13 9788567787121
ISBN 8567787122
Edição 1 / 2015
Idioma Português
Páginas 144
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