Sinopse
Este instigante texto de Jean Baudrillard, com uma tradução primorosa de Muniz Sodré, que também assina o prefácio, nos leva ao aprofundamento de fenômenos tão atuais como os que vêm se multiplicando sob a forma de reality show ou de exposição sexual escancarada. Fenômenos da modernidade? Ou, como afirma Baudrillard, repetindo Heidegger, da ?segunda queda do homem, a queda na banalidade?? A Telemorfose de que nos fala Baudrillard ? como tão bem afirma Muniz Sodré em seu prefácio ? ?tem ação global, é de fato, lá como aqui, a elevação de toda uma sociedade ao estágio paródico de uma farsa integral, de um retorno-imagem implacável sobre a sua própria realidade?. Um estudo para todos os que querem analisar com seriedade os fenômenos da Comunicação deste novo século. Trechos do livro: ?O que pretende verificar Loft Story é que o ser humano é um ser social ? o que não é certo. O que pretende verificar Catherine Millet é que ela é um ser sexuado ? o que também não é absolutamente certo. O que é verificado nessas experimentações são as próprias condições da experimentação, simplesmente levada a seu limite. (...) É o mesmo isolamento sensorial em Catherine Millet e no Loft, é o mesmo escancaramento atrativo no espetáculo do Loft e na oferta sexual de Catherine Millet. A mesma curiosidade vaginal, mais que vaginal, uterina, pelo buraco do Loft, mas desta vez aberta sobre um outro abismo, o do vazio e da insignificância. Ir cada vez mais fundo nessa verdadeira cena primitiva da modernidade. (...)? SEGUNDA ORELHA Mas que é, afinal, Jean Baudrillard? A pergunta procede (?o que?, não ?quem?), pode-se aplicá-la até a gente muito próxima de nós, a exemplo de Gilberto Freyre, que não era estritamente antropólogo, sociólogo ou ficcionista, mas algo como um ?pensador aplicado?. Baudrillard parece encaixar-se bem nesta categoria: um pensador com uma langue, não de bois, por certo, mas belle, uma bela língua reflexiva. Como um sofista da Antigüidade ateniense ou como, digamos, o empirista inglês David Hume, ele é, antes de tudo, um cultor da palavra reveladora e do estilo. (...) Nos textos de Baudrillard, palavras como ?troca simbólica?, ?crime perfeito?, ?sedução?, ?orgia?, ?obsceno?, ?virtual?, ?fim? e outras se repetem, mas sempre fora do desgaste dos clichês, uma vez que são condutoras de uma intuição quase profética. Este Telemorfose é um bom exemplo disso tudo.