POR TRÁS DA ENTREVISTA

Benicio Medeiros já foi insultado por um Grande Otelo desconfiado. Joel Silveira perdeu uma entrevista com Hemingway por medo daquele homem 'que era uma montanha'. Xexéo deixou Vera Fischer falando sozinha, enquanto Joaquim Ferreira dos Santos não conseguiu tirar palavra do rei Roberto Carlos. E o que dizer de Sérgio Cabral, que abandonou uma mesa-redonda no Pasquim porque exagerara no uísque? Ou de José Castello, que presenciou um surto de Clarice Lispector causado por um simples gravador? As histórias vão se emendando e a grande pergunta para os dez grandes entrevistadores é - entrevistar, afinal, é uma técnica ou uma arte? As respostas falam de método, edição, ética e empatia com o entrevistado. A entrevista, acreditam alguns, é trabalho coletivo. Para outros, pura criação literária. Uma opinião é unânime; a entrevista no jornalismo é essencial - e imprevisível. Carla Mühlhaus, a entrevistadora 'amigável', segundo Heloisa Buarque de Hollanda, acrescenta às respostas uma providencial perspectiva histórica do jornalismo no Brasil, identificando a influência do Novo Jornalismo no estilo da entrevista brasileira. Aqui, a notícia é a entrevista. Para entrevistar é preciso ter feeling, dizem os dez entrevistados deste livro. Este feeling, mostra a autora, está mais ligado ao jornalismo americano do que se imagina. Truman Capote já dizia que, quando o entrevistado fica mudo, o ideal é calar-se também. Assim a pessoa fica sem graça e começa a falar para preencher aquele silêncio amarelo, ensinava o escritor. Ponto para o feeling. Outros pequenos truques são herança direta de Pulitzer, como a descrição da casa e do estilo de vida do entrevistado, tarefa que todos os dez entrevistadores cumprem com afinco.