A IDA

Eu então reclinei a cabeça na janela para contemplar a paisagem de nuvens, apesar do sol que penetrava nos meus olhos e me obrigava a apertá-los como um gato com sono. A aeromoça perguntou o que eu queria beber. “Guaraná, por favor”, eu respondi. Abebida veio com um pacote de amendoins que a aeromoça serviu com a pompa de quem serve caviar e champagne. Seu uniforme tinha um corte retro, estilo anos sessenta, vermelho e engomado. Ela tinha os cabelos modelados em estilo Jackie Onassis e usava uma sombra azul um pouco exagerada e vulgar, mas que realçavam seus olhos verdes e ansiosos e o louro de seu cabelo. O tédio de voar começou a fazer efeito sobre a minha imaginação.