Sinopse
A fotografia é a arte de fabricar esfinges sem enigmas. Tudo está em silêncio e nada parece indagar. Tudo está em movimento e finge aprisionar o tempo. Como no êxtase. No entanto, o tempo, que se fotografa a si mesmo, compõe um auto-retrato de vertigens disfarçadas em alegria e, ao engendrar a memória, o que vai compondo é a essência do esquecimento, ou mil logros de que se faz toda hist6ria. Quando o que a fotografia captura é a alma de uma festa, o seu caráter clínico e cínico ainda mais se acentua. Uma anatomia da melancolia feérica. Se tudo no mundo existe para acabar em livro, o Carnaval foi feito apenas para resultar em boas imagens, como neste conjunto de flagrantes e retratos. Das religioes que existem, o Carnaval é a mais plástica é a única em que tudo é autêntico. A verdade é a maquiadora ideal de tudo o que e postiço, impreciso, suposto. Nascida da ânsia humana de mímese, a fotografia não quer singelamente imitar ou duplicar o seu modelo. Deixa para a cópula e os espelhos (vide Borges) o trabalho servil de multiplicar os homens. Prefere representar (e o que é toda fotografia senão um presente falso?). As suas ferramentas de luz são as sombras. As suas faces genuínas são as máscaras. Se o Carnaval e festa para os sentidos, talvez caiba dizer que e principalmente para um que ainda não foi nomeado. Algo intervalar entre o voyeurismo e a evasão. O que noutras palavras se traduziria por algo somente adequado àqueles que conseguem sair de si e imergir num monstro colorido, bêbado e tolo -uma, aliás inexistente, consciência coletiva. Apesar de todos os seus cordões, o Carnaval não é festa de nós e, sim, de eus enormes que pulam e brincam.