Sinopse
Só mesmo o ´bisturi´ analítico e investigativo de um cientista político do quilate de Wanderley Guilherme dos Santos para dissecar um tema objeto de tanta controvérsia: o liberalismo. Polemista por excelência, o autor propõe em Décadas de espanto e uma apologia democrática uma reflexão sobre o Brasil de hoje ? nestes tempos de globalização e inserção na chamada modernidade, a bordo de "um liberalismo empunhado pela neo-oligarquia" ? e de ontem ? quando, recém-liberto da condição de colônia, procurava afirmar-se como nação, com suas elites político-intelectuais adotando "um liberalismo constitucional em clara contradição com a prática política". São três capítulos, com títulos bastante sugestivos, de exercício de interpretação das idéias políticas que precederam ou acompanharam o desenrolar da história brasileira, expondo ? sob agudo senso crítico, típico do estilo do autor ? os dilemas do liberalismo. Neste livro, Wanderley debruça-se sobre a evolução do liberalismo no Brasil enquanto doutrina social e prática política desde os tempos do Império, vis-à-vis com a onipresente atuação do Estado como agente determinante das relações políticas, oferecendo ao mesmo tempo, como contraponto, a evolução do processo de conquistas sociais e de direitos de cidadania ? "que deu-se justo quando mais forte e intensa a presença do Estado". O autor avalia a política de estabilidade da moeda; denuncia a dicotomia entre desempenho econômico e disparidades sociais; retrata o cenário político atual, a composição e fragmentação do sistema partidário brasileiro, a relação percentual eleitorado/população e "os fenômenos para o futuro político do Brasil", o quadro eleitoral de 1994. Wanderley ainda mostra, com profusão de números e tabelas, a votação dos dois principais candidatos de então (em 1998, novamente frente a frente) e a distribuição de seus votos pelas regiões do país. Informações preciosas, com vistas às próximas eleições. Em texto permeado de fina ironia, Wanderley Guilherme provoca, instiga e prova, sobretudo, que, ao contrário do que se supõe e alguns apregoam, ainda existe o confronto entre liberalismo e estatismo. Audacioso em suas análises, provocador em seus questionamentos, o autor não hesita em ´pôr dedos em feridas´ e lança conclusões simplesmente impactantes. Mostra sobretudo que uma "apologia democrática" se constrói justamente pelo incitamento ao livre e saudável debate de idéias.