SEM TRILHA SONORA

A realidade acaba sobrepondo-se às fantasias do grupo de irreverentes amigos. Como nos versos de Renato Russo close the door lightly when you go, apenas um deles, o personagem Gabriel, sobrevive às perdas dos inseparáveis companheiros cujas vidas haviam sido prematura e impiamente ceifadas. Refugia-se em uma pacata cidadezinha na esperança de recomeçar. Nas águas do mar rebatizar-se-ia, tentaria mudar de nome, fugindo do fantasma da aids, responsável pela brutal ruptura daqueles laços. Até que numa corrida matinal, um desconhecido invade sua vida e uma intensa afetividade surge entre os dois, ainda que Sem trilha sonora, a embalar os fragmentos (re)vividos, com desventuras e alegrias, sob pungentes açoites da dor dos que ficam, como sangra! O surpreendente é que Manuel, o audaz, ao ali aportar, escudava-se em mistérios, esgueirando-se a qualquer brecha de se auto-revelar, tal qual fugitivo. Todavia, vez ou outra, no flagrante descuido apanhado, aparentava serem deliberadas e propositais as razões a que vinha, como quando disse versos de Lorca, ou frases enigmáticas que tinham tudo a ver como se o forasteiro fosse alguma nota perdida na história desta trilha. Não seria ocasional o encontro das águas, diria Gabriel, o personagem- narrador.