OS GRANDES SÍMIOS

Ao decidir escrever seu primeiro romance, lançado no Reino Unido em 1993, o escritor inglês Will Self tinha o propósito de apenas assustar seus leitores. Foi muito além disso. Dono de uma obra singular, é considerado hoje um dos mais talentosos escritores britânicos de sua geração. Entre os mais entusiastas de seu trabalho, destaca-se o escritor Salman Rushdie. Will Self afirma que não tem uma visão muito definida do que seja seu "projeto literário". Tem certeza apenas de que nunca se sentiu realmente incluído na tradição literária inglesa. Percebe isso principalmente porque suas influências vieram de diversas línguas e culturas estrangeiras. Mas afirma que, por trás de tudo isso, está muito mais a intenção de fazer rir pela sátira e, assim, romper com regras há muito estabelecidas. Suas influências literárias são tão vastas quanto a quantidade de livros que leu. "Nós todos temos consciência de que somos o produto de tudo o que absorvemos. Mas, tentando ser um pouco mais específico, posso dizer que houve alguns livros que apareceram na minha vida e que me marcaram muito quando tive contato com eles. Foram os livros que me fizeram perceber o que era escrever e para quem desejava escrever?, afirmou em entrevista ao jornal Gazeta Mercantil. Livros como Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, Pai e filho, de Turgenev, Bouvard e Pécuchet, de Flaubert, O mestre e Margarida, de Bulgákov, Junk, de Burroughs, Viagem dentro da noite, de Céline; e Crash, de Ballard, são algumas das obras que mais o influenciaram. Em Grandes Símios, ele trafega pelo delírio ao contar a história de um jovem que um dia acorda e descobre que tanto sua namorada quanto todas as outras pessoas que o cercam viraram chimpanzés. A narrativa aborda o processo de mutação, real ou imaginário, dentro do universo de seus personagens. Segundo o autor, a intenção do romance era fazer uma releitura de todas as sátiras do final do século XX, inspiradas na descoberta dos macacos antropóides pelos exploradores europeus no século XVII. Sobre o estilo de seu texto, considerado pouco acessível por alguns críticos, Will Self justifica que não escreve livros de maneira difícil para torná-los apelativos. "São textos que levarão as pessoas a querer decifrá-los, a entender o significado deles. Não cabe ao escritor satírico dar respostas fáceis às quais o leitor possa se agarrar?, afirma.