O AMBIENTE URBANO E A FORMAÇÃO DA CRIANÇA

O presente livro, originado e com o mesmo título da tese de doutora- mento, apresenta-se como uma grande contribuição a todos aqueles interessados no desenvolvimenco cultural de nossas futuras gerações, em especial na faixa etária da criança, aqui estudada no contexto global de seu desenvolvimento físico e psíquico, nos universos ambiental e espacial. Com a percepção do arquiteto, aborda as vivencias coletiva e individual e a forma gradativa de construção da visão do mundo através dos olhos da criança. Assim, examina com uma abordagem complexa a ocorrência concomitante das múltiplas variáveis físicas e sensoriais do mundo dos sentidos, os movimentos, as atividades e o aprendizado lógico do mundo racional, que integradamente vao instigar a criatividade infantil. Para que isso ocorra com desenvoltura, defende a necessidade do espaço aberto adequado à criança, mas ressaltando que, para sua socialização e convivência com outras crianças, as atividades ocorram na diversidade do espaço público como o lugar adequado para o desenvolvimenco da civilidade e da cidadania. Afirmações apoiadas em conceiros construídos em Hall, Oaklander, Tuan, Pinker, Filgueiras, Piager, Wallon, Friedman, Freire, Santos, entre outros, objetivando reflexões com uma visao holística da questão. Suas críticas ressaltam a involução que vem ocorrendo com o espaço público e coletivo como espaço do debate e da opinião, dos encontros informais e espontâneos e a valorização do espaço individual, especialmente concentrado na propriedade particular. A rua, como o principal dos espaços públicos, ganha conotações pejorativas: "vá para a rua" ou "vá para o olho da rua", "estou na rua da amargura", "menino de rua", "viver na rua", local dos malandros e marginais, como identifica Roberto da Marta. Local transit6rio, de passagem e circulação e pista de rolamento de veículos. Valorizam-se os espaços privados abertos e fechados de lazer e restritos a quem de direito: as áreas abertas dos condomínios fechados, dos clubes e os espaços cobertos do quarto, das brinquedotecas, dos shoppings, dos centros esportivos, culturais e de lazer, quase sempre segregadores e enquadradores de comportamento massificador e consumista. Nosso comportamento adulto será, então, um reflexo de nossa infância, conforme estava na frase de Montessori, no inicio de um dos itens de capítulo.