A CRIANÇA E O MEDO DE APRENDER

De modo original, a obra destaca que, por trás e na raiz do fracasso escolar e de várias dificuldades de aprendizado, está o medo, entendido como uma resistência inconsciente de a criança colocar em questão seu universo mental, que parece ameaçado pela assimilação de novas informações, modos de pensar e saberes. A partir da própria experiência com uma classe especial, o autor revela como a leitura casual dos contos de Grimm prendia o interesse dos alunos, conduzindo-os a um mundo de sonhos. Desse modo, fornecia para eles mesmos e para o professor elementos que lhes permitia repensar o próprio universo mental e desejar reformulá-lo, dispondo-se assim a assimilar novos elementos, a abrir-se ao aprendizado. Nos dois primeiros capítulos, o autor narra seu encontro com o fracasso escolar e formula sua tese sobre a estreita relação entre a mediação cultural e as dificuldades de aprendizado. Em seguida, analisa uma dezena de casos em que foram superadas as mais diversas dificuldades ao se apresentar as inquietações mais elementares dos alunos, pelo viés da cultura, com a proposição indireta de imagens para pensar, passando, em geral pelo professor, tomado como ponto de referência, e ajudando o educando a se desprender da curiosidade circunscrita ao emocional para, aos poucos, alcançar uma organização psíquica compatível com a aprendizagem. É impossível sintetizar em uma simples resenha toda a riqueza do livro. Além de impressionar pelo rigor das análises e pela riqueza de dados concretos, a obra coloca o leitor no centro das mais variadas preocupações pedagógicas e propõe uma espécie de linha de pensamento capaz de orientá-lo e estimulá-lo a traçar seu caminho diante dos problemas, sempre únicos, com que se depara.