Sinopse
Este livro reúne textos publicados em ocasiões distintas e com variados propósitos. No entanto, nele persistem certas interrogações que derivam de problemas enfrentados na crítica dos filmes cuja interpretação se enriquece a partir do cotejo com formas da encenação teatral herdadas pelo cinema. Tem aqui particular relevância a concepção da cena tal como formulada desde o século XVIII, quando emergiu o drama sério burguês e a hipótese da "quarta parede" foi assumida para valer nos palcos. A leitura dos filmes se insere, portanto, num horizonte histórico que será objeto de discussão apenas quando necessário, mas haverá sempre, como moldura geral, uma atenção à forma como operam, na indústria cultural do século XX, gêneros como o melodrama e uma geometria do olhar e da cena que não se iniciou com o cinema, mas nele encontrou um ponto de cristalização de enorme poder na composição do drama como experiência visual. A projeção da imagem na tela consolidou a descontinuidade que separa o terreno da performance e o espaço onde se encontra o espectador, condição para que a cena se dê como uma imagem do mundo que, delimitada e emoldurada, não apenas dele se destaca mas, em potência, o representa. De modo geral, estará aqui em foco a passagem do teatro e da literatura ao cinema num sentido amplo que ultrapassa o caso da "adaptação", Tal passagem é observada a partir de filmes que se debateram com a tradição do espetáculo ilusionista encontrada no cinema clássico e no teatro que o inspirou. Haverá casos de sintonia com tal tradição e casos de postura crítica diante dela. De qualquer modo, tudo sempre dentro de limites que preservam a dualidade olhar / cena, a separação dos terrenos que permite uma interpretação dos filmes apoiada na análise de como interagem a estrutura dramática, o teor da cena e o lugar do espectador. Destaco três pólos de atenção.