Sinopse
Ler Hegel, compreender Hegel, prosseguir, com Hegel, para além de Hegel -permanece um desafio de cultura. De cultivo também; não de culto. Mais do que "arrumá-lo" piedosamente, ou com desdém, na secção reservada aos "difíceis" (com raiva indisfarçada, por motivos diferentes, muitos o classificaram no registro do "patológico", mais do que "aprender a soletrar Hegel" (como Hans-Georg Gadamer alvitrava), talvez importe, desde logo, tomá-lo como interlocutor numa andança que nunca deixa de ser própria, mas atenta a escuta do que, dizendo, ele nos pode interpelar. Theodor Adorno propõe-nos, a este respeito, uma metáfora espácio-musical: Tem de ler-se Hegel descrevendo junto [com ele] as curvas do movimento espiritual, do mesmo modo que, com o ouvido especulativo, se tocam também os pensamentos, como se fossem notas. Este é o ritmo do acompanhamento consonante que abre e descobre uma partitura que se oferece e decifra. Mas a dissonância também pode fazer parte dos resultados da recepção que num horizonte de criatividade e de assunção se reconfigura. Apreendido o desenho, fazendo, outras possibilidades plásticas se rasgam.