Sinopse
Na perspectiva da psicologia analítica, poucos autores têm-se dedicado a publicar suas reflexões sobre o tratamento da psicose, assunto de grande interesse para Jung e que muito contribuiu para formulação de conceitos importantes em sua obra, como os de inconsciente coletivo e arquétipo. A partir deste referencial teórico e de suas reflexões e vivências como coordenador da marcenaria A Ponte, Arnaldo Alves da Motta discute a complexidade dos tratamentos e a necessidade de se criar estratégias terapêuticas para superar situações cristalizadas pela doença e pelo sistema de saúde. O livro indica ainda como fundamental a relação transferencial para que o usuário consiga se inserir em projetos que possibilitem situações novas em sua vida, trazendo o trabalho como uma das principais demandas do sujeito no processo de resgate da saúde. O autor aborda o trabalho numa perspectiva mítica, delineando algumas das representações simbólicas que o trabalho adquiriu na cultura patriarcal, da expiação à redenção, mas principalmente como elemento para estruturação individual e valorização social. Em sua descrição do projeto, pode-se perceber o salto significativo das práticas psiquiátricas que fazem uso das atividades com o intuito ocupacional, para a busca de atividades que adquiram sentido real na vida do sujeito. A produção de valor social, seja trabalho, dinheiro, sociabilidade ou aquisição de autonomia, tem efeito estruturante sobre o indivíduo, além de modificar sensivelmente o lugar que ocupa na família e no grupo social. Durante todo o trabalho, o autor busca conceituar esta nova clínica que pretende articular o tratamento do sofrimento psíquico grave com projetos que visam restituir ou desenvolver habilidades e devolver direitos aos sujeitos. Aponta ainda, para a necessidade de se criar um campo de reflexões em que diversas perspectivas possam se integrar. O desprendimento de Arnaldo Alves da Motta ao relatar sua experiência pessoal reafirma que a construção de novas práticas em saúde mental implica a possibilidade de conseguir produzir Saúde. Requer a criação de novos caminhos que conjuguem o cuidar da dor com o impulsionar para a vida.