Sinopse
O escritor Pascal Quignard consegue o que parece impossível: aliar erudição à simplicidade. Sua obra é marcada pela busca da palavra exata, do ritmo musical das frases. Tudo é pensado, nada é casual e o foco está em pequenos detalhes, minúcias, filigranas que se transformam na essência da criação. Ao mesmo tempo e paradoxalmente, o texto sai limpo, fluido, refinado e livre de prolixidade. Assim é Ódio à música. Desta vez, um dos mais requintados autores franceses da atualidade fala da música através de oito tratados. Mas não só sobre a música propriamente dita: Quignard cria sentidos para sons, gemidos e grunhidos. Filosofa sobre a musicalidade da vida e da morte e passeia pela história da humanidade pelo viés do som, revisitando gêneros e instrumentos musicais antigos. No tratado "Acontece que as orelhas não têm pálpebras" o autor faz uma clara apologia ao silêncio, em um mundo cada vez mais massacrado pela poluição sonora: "Todo o som é invisível na forma do perfurador de envelopes... O som ignora a pele, não sabe o que é um limite. É impalpável... O som penetra. Ele é o estuprador. O ouvido é a percepção mais arcaica ao longo da história pessoal, antes mesmo do cheiro, bem antes da visão, ele se alia à noite." E no tratado que dá nome ao livro, ele faz uma severa crítica à música, "a única, entre todas as artes, que colaborou com o extermínio dos judeus organizado pelos alemães de 1933 e 1945". Quignard indaga: "Por que a música pôde estar misturada à execução de milhares de seres humanos?" Muitas questões surgem em torno deste binômio música-nazismo. Para o escritor Marcel Proust, esta é a função da literatura: provocar perguntas bem mais do que fornecer respostas. Com maestria, Quignard mostra mais uma vez que a música existe para substituir o que as palavras não podem dizer. E, mesmo involuntariamente, cria uma escrita musical. Compõe com palavras.