NO TEMPO DAS BORBOLETAS

Embora prefira anunciar No tempo das borboletas como uma obra de ficção, Julia Alvarez traçou uma das mais contundentes narrativas históricas dos últimos anos, revelando ao mundo a saga das irmãs Mirabal, que desafiaram a sangrenta ditadura do general Rafael Leonidas Trujillo, na República Dominicana, e acabaram assassinadas. Em novembro de 1960, Patria, Minerva e María Teresa, com respectivamente 36, 34 e 25 anos, foram encontradas mortas perto dos destroços de seu jipe, no fundo de um precipício na costa da República Dominicana. El Caribe, jornal oficial, dá o laudo de acidente, não menciona a existência de uma quarta irmã, tampouco informa que as moças estavam entre as maiores opositoras da ditadura. Não era preciso. Todo mundo conhecia As borboletas (Las mariposas), fundadoras do Movimento 14 de junho. O crime provocou uma insurreição política, culminando com a morte do general, em 1961. Contar em detalhes a vida das Borboletas sempre foi um desafio para Julia Alvarez; ela própria sofreu as conseqüências do jugo imposto pelo general, pois aos 10 anos exilou-se com sua família nos Estados Unidos. No entanto, sabia como ninguém que conseguiria conjugar uma história privada inusitada e um painel de um momento confuso e perigoso da história caribenha. No romance, em que se sobrepõem as vozes de Minerva, Patria, María Teresa e Dedé (a quarta irmã), misturam-se lembranças de laços de fita na cabeça, luta armada e prisão. Rafael Leonidas Trujillo, ajudado pelos Estados Unidos, assumiu o comando da República Dominicana, revelando-se um verdadeiro tirano de 1924 a 1961. Julia Alvarez nos revela uma passagem desta cruel ditadura, mostrando o que o povo dominicano passava. Escolhendo o drama das irmãs Mirabal, a autora faz de No tempo das borboletas o diário de muitas famílias dominicanas, que além de perderem tudo, até mesmo o direito de viverem no país em que nasceram, viram ceifadas vidas de parentes. No tempo das borboletas traz à tona também a face até então oculta do ditador Trujillo, já que o apresenta como um conquistador amoroso, um Dom Juan romântico que sabia presentear aquelas que escolhia para cortejar. Como todos os tiranos, no entanto, o fazia à custa do poder. O livro foi adaptado para o cinema, sob direção do espanhol Mariano Barroso e produção da atriz Salma Hayek, que também faz o papel de Minerva.