Sinopse
Reúne toda a poesia publicada por Alice Ruiz durante a década de 1980. A obra ganhou o Prêmio Jabuti 2009, na categoria "Poesia". Sempre encantadora, a poeta paranaense é hoje uma figura pública, reverenciada por onde passa, ministrando suas oficinas poéticas ou apresentando seus poemas na companhia de cantoras populares.
A década de 80, na poesia brasileira, foi um período de superação do espontaneísmo exacerbado da "geração mimeógrafo" ou da poesia marginal que surgiu com força na década anterior. Algumas características muito férteis da poesia dos anos 70, como a criatividade, o humor e a inventividade veloz, são articulados a um maior rigor formal e conceitual aprendido principalmente com a poesia concreta paulistana.
Nos poemas mais antigos, a poeta oscila entre os poemas engajados repletos de intertextualidade parótica, bem a gosto da poesia marginal, como "Drumundana" e poemas com uma organização visual claramente inspirada na poesia concreta, como "Bem que eu vi".
Nestes textos do inicio da década, em que o teor feminista é mais presente, a poeta ainda oscila entre os dois pólos, mas já encontramos momentos de síntese perfeita, como em "nada na barriga/navalha na liga/valha".
Alice Ruiz S. constrói, com sutileza e sem alarde, a mais fina poesia do seu tempo. O poeta é a "antena da raça" como disse Pound, e Alice antecipa em muito questões cada dia mais atuais, como o progressivo entorpecimento geral que se discute em poemas como: "lembra o tempo/em que você sentia/e sentir/era a forma mais sábia/de saber/e você nem sabia?".