POR TRÁS DAS IMAGENS NO MUSEU

"Eu existo", constata Ruby Lennox, no exato momento de sua concepção. Era meia-noite, início dos anos 50, na fria e cinzenta cidade inglesa de York. Começa a viver a terceira filha de George e Bunty, que vai contar a história de cinco gerações de uma família comum. "Eu existo", pode muito bem ter pensado a escritora Kate Atkinson, diante das repercussões iniciais desse seu primeiro romance, Por trás das imagens no museu. Críticos ingleses, franceses e americanos não disfarçaram a forte impressão deixada pela novata. Os jurados do prestigiado prêmio Whitbread, que o romance ganhou em 1995, confirmaram: "Difícil acreditar que é um romance de estréia, de tão grandioso e bem controlado. A autora manipula o material com a segurança dos melhores e mais tradicionais ingleses. Maravilhosamente acessível, fonte de prazer em diversos níveis." Ruby Lennox nasce e cresce no que é chamado de Sobreloja – no térreo fica a loja de animais de estimação que é o antigo negócio familiar. Sua história é a das mulheres da família desde o fim do século passado. A passagem do tempo é exposta pela sucessão de eventos domésticos – férias, funerais, casamentos, nascimentos, fugas e mortes – entrelaçados a eventos maiores como a coroação de Elizabeth II, a final da Copa do Mundo de 1966 e as duas guerras mundiais. Além da sonhadora e insatisfeita Ruby, desfilam sua bisavó, avó e irmãs. Mulheres perdidas no tempo, com as vidas delineadas pelos homens com quem casaram, estão longe de ser personagens adoráveis, mas são frágeis e honestos. Kate Atkinson administra de forma poética as digressões e detalhes inconseqüentes que utiliza para ironizar e minimizar a tragédia de equívocos, perdas e acidentes. O contraste está nas imagens fortes construídas por uma linguagem precisa e poderosa. A autora oferece um romance que, embora não seja autobiográfico, "foi uma maneira que encontrei de colocar algumas coisas da minha vida. Dependendo do ponto de vista, levei dois meses para escrevê-lo – ou a vida inteira".