DISCURSO FUNDADOR

Discute-se a identidade brasileira, seja para dizer que não temos uma identidade, seja para afirmar que não somos isso ou aquilo, seja para dizer que temos atributos, na maior parte das vezes, não recomendáveis. Nos 3 casos, define-se o brasileiro pela negação. Está aí talvez a marca mais forte da nossa brasilidade: não nos afinamos com predicados que nos afirmam mas sim com o jogo de negações. O território de nossa definição fica assim um tanto difuso. Ou então, no outro lado, estão os que definem a brasilidade pelo encontro das 3 raças: o branco, o índio e o negro. A tradicional mistura. Mas uma mistura indistinta em que não sabemos bem em que proporções entre cada um dos componentes. Ser brasileiro, finalmente, não é ser branco, ou ser índio, ou ser negro. É ser brasileiro. No desejo de ter uma identidade positiva - e porque não basta afirmar que brasileiro é igual a brasileiro (já que o que funciona na definição da identidade não é a=a mas a=b, sendo que b deve incluir a) - nega-se freqüentemente que o brasileiro seja igual a alguma coisa que o defina positivamente. É neste processo de negações e deslocamentos que se constitui nossa brasilidade. Para nós, esses são efeitos ideológicos e procuramos, nesses textos, explicitar esses efeitos, analisando como se estabelecem e circulam os discursos de formação de nossa identidade. Para criar condições para uma reflexão mais abrangente e que corra menos riscos do discurso sobre a identidade, trabalhamos também com discursos da argentinidade. Podemos assim nos situar em um contexto mais complexo, na América Latina, procurando reconhecer, nos lugares de memória em que se formam as diferentes identidades, os momentos cruciais.