PERCILIANA E O PÁSSARO COM ALMA DE CÃO

Estamos em terras do sul, onde a sabedoria do homem é coragem. Começa aqui a saga de uma família instruída na língua do campo e dos pássaros grandes. Na memória de suas origens, uma biblioteca, a solidão de amar e um piano. No mapa cifrado das mãos, o encontro da força gaúcha com um coração gitano. Assim vamos ingressando aos poucos na história dos Souto, descobrindo sua alma peregrina, a marca de seus antepassados, seu tempo de lutas e festas, que é também um tempo de liberdade. Então vamos adiante, de geração em geração, adivinhando as repetições do medo, os pequenos gestos cotidianamente refeitos, a sina de chegadas e partidas, os diferentes nomes para uma só saudade. Entre o labor e o silência da estância, vêm os presságios do minuano. Num mundo agregador de crianças, forasteiros e filhos viandantes, a natureza guarda velhos segredos, o corpo professa a religião da vida, os mortos tramam fabulações. E as palavras têm, cada qual, seu matiz, seu parentesco umas com as outras, seu incomerciável valor. Este é um romance que se desdobra em muitos. Dele somos hóspedes, mais que leitores. Personagens nós mesmos desta imensidão para além dos pampas.