Sinopse
A contestação trazida pela medicina cientifica do século XIX às práticas tradicionais e populares de cura, sabemos, provocaram em todos os lugares não apenas uma nova definição ao conhecimento, intervenção e controle sobre o que é considerado saúde e doença, mas também a restrição daqueles que podem delas falar, e agir, sobre o corpo doente. Sabemos também que esse movimento descartou as sabedorias antigas em nome de um esforço prometéico de dominação da natureza pelas tecnologias, como assinala Betânia. Mas, ao situar sua análise no contexto das relações sociais das cidades e localidades mineiras do século XIX e não nos projetos de poder e saber constitutivos dos discursos médico-cientificos, autora abre um caminho no qual é possível captar os atravessamentos das diferentes concepções de cura que é feito o contexto no qual se debruça. Diversidade e ambigüidade é a marca desse processo, formando todo um mundo de histórias que, confrontadas umas com as outras, representam o intercâmbio entre tradição e modernidade. Desse modo, a autora pode dizer das transformações culturais do século XIX brasileiro e de suas aspirações civilizatórias que "múltiplos movimentos puderam ser percebidos, indicando que, no fluxo em direção a um modelo de civilização, há espaço, aparentemente inesgotável, para a recriação e invenção".