PENSAR A CRIAÇÃO COMO JOGO

Ao contrário do que pensam os racionalistas, a religião sempre teve uma dimensão que transcende a razão. Para Platão era uma história de poetas, numa cidade política por demais agitada. Hoje em dia apela para o irracional das experiências extra-sensoriais ou para as armas. O que se pensava ser busca do invisível e do espiritual, tornou-se guerra. Como, porém, pensar a religião sem racionalizá-la? O autor propõe pensá-lo como jogo. Funda sua proposta no que há de mais característico da teologia tradicional da criação: a contingência do mundo, trazido à existência pela liberdade de Deus, pelo jogo da Sabedoria, como o reconhece a própria Escritura, no livro dos Provérbios. Depois de analisar a categoria do jogo, em confronto com a doutrina da criação, passando em revista alguns dos maiores teólogos contemporâneos, a obra elabora o conceito de jogo na teologia bíblica da criação, mostrando como foi entendido na antiguidade patrística e na teologia posterior. Finalmente, na terceira e última parte, aplica as grandes características do conceito à criação - liberdade, separação, imprevisibilidade, improdutividade, regra e caráter fictício - colocando-as em ressonância com os componentes tradicionais da teologia da criação. A obra, de fato, pela sua originalidade, inaugura um novo tom na teologia, na discussão livre com o pioneirismo de nossa época, mas em face de uma mesma adversidade, o culto da eficácia, a crispação sobre as garantias fundamentalistas, e até um ar de fanatismo que se apodera das religiões. Aqueles que desejam reabilitar o "espírito de jogo", no universo teológico, ressaltam, sobretudo, o que o opõe ao projeto moderno de controle, de domínio ou de dominação do mundo. Diversamente da vontade de assegurar um fundamento estável e de garantir um futuro previsível, o jogo sublinha o caráter aleatório de seus processos e o risco que ele envolve. Diversamente do cálculo e do espírito de capitalização, do objetivo a alcançar a curto prazo e a menor custo, o jogo esbanja e dissipa. Diversamente da seriedade do trabalho austero e do primado exclusivo da ética, o jogo reabilita a festa e o prazer da contemplação estética. A teologia lúdica supera a teologia racionalizante. Quem sabe não é esta a teologia pela qual aspiram os muitos jovens que se comprazem hoje na festa? A teologia lúdica é a teologia da juventude.