EDGAR DA CRUZ FERREIRA

O sonho de se tornar dentista teve início muito cedo em sua vida. Quase à mesma época em que aprendia as primeiras letras. No entanto, o sonho de seguir a carreira do pai, falecido quando era ainda uma criança de colo, jamais foi encorajado pela família. É que, nas primeiras décadas do século XX, a Odontologia era uma profissão vista com grande preconceito e desconfiança. Aos 84 anos, o Dr. Edgard da Cruz Ferreira pode se orgulhar de ter acompanhado a profunda mudança na profissão. E, mais do que acompanhado, ter dado uma contribuição importante para que isso acontecesse. Uma contribuição pautada pela promessa que veio junto à decisão de ser formar dentista: a de melhorar as condições gerais desta profissão antes desprestigiada. Fazer com que o profissional da Odontologia se tornasse mais respeitado tornou-se, assim, uma meta para o Dr. Edgard. O primeiro passo seria a formação de profissionais mais preparados, embora ele mesmo não tenha podido cursar a faculdade do modo como gostaria, pois mal ingressou no curso foi convocado a se alistar para combater na II Guerra Mundial. Apesar disso, aproveitava todos os momentos possíveis, até mesmo de pé, durante o trajeto de trem a caminho do quartel, para estudar por conta própria. A partir daí, nunca mais abandonou os estudos e até hoje surpreende os mais jovens, matriculando-se em diversos cursos de atualização e aperfeiçoamento. Sempre disposto a aprender, o Dr. Edgard é conhecido também pela generosidade com que compartilha seus sólidos conhecimentos na área e a longa experiência acumulada. À carreira acadêmica, no entanto, preferiu sempre o ensino informal, reunindo à sua volta profissionais e ensinando-lhes, entre outras, as técnicas inovadoras de porcelana sobre metal que aprendera na Europa. O desenvolvimento técnico e científico do dentista era, contudo, apenas um dos aspectos da missão que se outorgou de engrandecer a profissão abraçada. Uma preocupação igualmente marcante foi a de fortalecer a entidade representativa da categoria. À frente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), que dirigiu de 1969 a 1975, compreendeu que a construção de uma sede condigna para a entidade seria um passo significativo. Enfrentou a descrença de muitos e venceu. Com uma gestão rigorosa e muita abnegação, pôde concretizar mais este sonho.