DIREITOS REPRODUTIVOS NO BRASIL
Miriam Ventura
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Sinopse
A terceira edição dos Direitos Reprodutivos no Brasil chega
aos leitores e leitoras no ano que a Conferência de População
e Desenvolvimento das Nações Unidas, realizada no Cairo,
completa seus 15 anos. O documento desta Conferência
é reconhecidamente um dos mais importantes sobre o tema,
pois estabelece uma formulação para os Direitos Reprodutivos,
como Direitos Humanos, e um conjunto de princípios, diretrizes
e metas que devem nortear as políticas públicas e as leis
relacionadas à população e ao desenvolvimento. O consenso
estabelecido no documento pelos países integrantes da Organização
das Nações Unidas, foi um passo inicial de importância
central para se avançar e firmar a noção de que as pessoas são
portadoras de direitos próprios no âmbito reprodutivo, e que
estes direitos devem ser respeitados pelos Estados-Nacionais.
A primeira edição deste trabalho foi publicada no ano de
2002 pela Fundação MacArthur, com o objetivo de apresentar
um panorama da situação legal dos Direitos Reprodutivos no
Brasil, e atender as necessidades mais urgentes de profissionais
e ativistas que trabalham com as questões de saúde reprodutiva.
As reedições revistas e ampliadas do trabalho foram propostas
e publicadas pelo UNFPA , em 2004, e agora, em 2009.
A autora agradece ao UNFPA a oportunidade de atualizar o estudo
e republicá-lo, bem como, as várias instituições e leitores
que enviaram sugestões, e vêm divulgando o trabalho.
Manteve-se nesta reedição a mesma proposta inicial de
apresentar conceitos-chave dos Direitos Reprodutivos inseridos
nas leis e políticas nacionais, e nos principais documentos internacionais
de direitos humanos. O foco do trabalho continua
sendo os Direitos Reprodutivos, e somente se tratará de aspectos
dos Direitos Sexuais mais diretamente relacionados com as
questões reprodutivas. Nesta terceira edição buscou-se melhorar
a sistematização, atualizar e aprofundar alguns aspectos
mais conceituais, sem a pretensão de ser um trabalho científico
de análise conceitual ou política. O objetivo continua sendo o de
oferecer um guia prático com os principais aspectos das leis e
políticas públicas relacionadas aos Direitos Reprodutivos.
As leis e as políticas públicas são apresentadas de forma
contextualizada em uma perspectiva histórica e factual dos Direitos
Reprodutivos. Este tipo de narrativa busca que o leitor
perceba o caráter dinâmico e a importância do Direito, como
fenômeno político, ético, e social, e também, sua importância
instrumental para a formulação e a implementação das leis e
políticas públicas, e na consolidação de avanços conquistados
politicamente pelos diversos segmentos sociais. Além disso, se
chama atenção como este processo de reconhecimento e afirmação
de direitos afeta o dia a dia das pessoas.
Como introduzido na primeira edição, o estudo justifica-se
porque a linguagem dos direitos confere uma força particular às
reivindicações e conquistas da sociedade, principalmente quando
afirmamos que o direito defendido é um direito fundamental.
No entanto, para que o direito reivindicado torne-se efetivo, é
preciso identificar, com nitidez, qual o tratamento reconhecido
e garantido pelo ordenamento jurídico nacional e internacional.
Este trabalho não tem a pretensão de esgotar o tema; ao
contrário, aponta apenas aspectos mais relevantes, e espera estimular
e ampliar a discussão. Como todo trabalho que pretende
olhar de forma panorâmica um tema determinado, somente os
pontos mais visíveis à observadora são captados. Sua utilidade
está em servir como ponto de partida e estimular o aprofundamento
de aspectos abordados.
A Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro
de 1988, continua sendo um marco legal de grande importância
no processo de asserção dos Direitos Reprodutivos no Brasil.
Mudanças positivas podem ser constatadas ao longo das
últimas décadas em relação à incorporação desses Direitos nas
leis e políticas públicas brasileiras. Nos últimos cinco anos, as
grandes mudanças legislativas estão relacionadas aos crimes
sexuais e a violência doméstica, no sentido de adequar o sistema
nacional aos parâmetros internacionais dos direitos humanos.
Constatam-se, ainda, avanços no Poder Judiciário sobre a ampliação do direito da mulher ao aborto, no caso de feto com
anencefalia, que está em discussão no Supremo Tribunal Federal.
Os esforços concretos do Executivo Federal de consolidar
uma política pública intersetorial para a proteção e promoção
dos Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos são também bastante
visíveis. Esses são alguns dos avanços mais relevantes
identificados no âmbito legal e político.
Nosso grande desafio continua sendo o de potencializar os
instrumentos e mecanismos legais e políticos institucionais
existentes, para que a efetivação dos Direitos Reprodutivos alcance
indiscriminadamente todas as cidadãs e cidadãos, como
por exemplo, as pessoas com deficiências, aquelas que vivem
com HIV e aids e outros segmentos que ainda contam com
grandes dificuldades para o exercício desses direitos.
Espera-se que o este trabalho continue contribuindo para a
efetivação dos direitos, e servindo como referência para as dúvidas
do cotidiano de diversos profissionais e ativistas de direitos
humanos.