Sinopse
Não há dúvida de que uma das aspirações mais persistentes da humanidade seja a invenção de uma panacéia, um remédio - um tônico, em suma - que curasse todos os males existentes (ou por existir), restituísse aos seres humanos a saúde e a beleza, a juventude e a energia, libertando-os de sofrimentos reais e imaginários. Basta lembrar o caso do nosso Machado de Assis, nas Memórias Póstumas de Brás Cubas, quando se fala na criação do "emplasto Brás Cubas", um cura-tudo que aliás não se concretiza. H. G. Wells já era nome consagrado como escritor voltado para o progresso da ciência e o avanço tecnológico, quando publicou Tono-Bungay. Neste romance, mostra a criação e a comercialização de um produto "cura-tudo": um elixir que restaura a saúde, a beleza e a força. O romance, aparentemente, se constrói sobre uma base otimista, que aposta no progresso continuado da ciência. Esia aí montado o esquema básico de uma ficção científica. Porém, Tono-Bungay não é verdadeiramente uma ficção baseada no avanço da técnica. É antes uma sátira ao cientificismo de mercantilização crescente, revelando-se também como um romance de idéias na apresentação e nos comentários sobre as mudanças de ordem social e condições de comércio na Inglaterra na virada do século, sem deixar de mostrar as mudanças ideológicas decorridas (George Ponderevo, o criador do tônico, adere ao socialismo). Este romance também compartilha de outra vertente da obra de Wells, a da comédia de costumes, inserindo-se na obra de Wells como uma espécie de "sintetizador", uma obra que resume a temática de três linhas mestras da ficção wellsiana - o romance de idéias, a ficção científica e a comédia de costumes - sem contar que encerra a fase da ficção científica do autor e serve de ponte para as obras posteriores, de cunho histórico e social, inpregnadas de crescente pessimismo.