Sinopse
Tal qual uma aranha negra a tecer seus crivos, a filosofia cinza nos oferta imagens esplêndidas, insólitas e esotéricas; signos, códigos e decodificações; limiares, trilhas e planícies generosas. Os fios do livro tramam as núpcias da linguagem e do inconsciente e transformam o leitor num viajante através dos confins da alma, das entranhas. Desnuda seus mistérios, trazendo-o purificado para a superfície. O que surge ao longo da escrita é uma geografia fantástica revelando o corpo. É tudo muito forte, denso, porque a chave que abre o jogo, o processo da adivinhação é a melancolia. Texto e corpo, corpo e texto se confundem compondo uma história trágica. A história trágica aqui é escavação vertical constante dos limites que deixa aparecer o corpo como ele de fato é - um estrangeiro no tempo que é preciso resgatar como de dentro dos escombros abandonados de um naufrágio. A teia de textos, cada página, abre as dobras do tempo, sua veste drapeada, e movimenta uma breve genealogia da melancolia onde as divisões correspondem a placas contínuas. Márcia Tiburi cavouca os séculos e oferta ao leitor a melancolia embalada por Saturno, o deus da face oculta e das trevas, mostrando que entre os antigos a melancolia está ligada à influência do corpo no pensamento. Na Renascença a melancolia dá lugar ao sujeito, transformando-se em humor e ironia para adquirir, no século XIX, o tom do romantismo negro do amor à morte. E mais do que nostalgia se faz puro sofrimento. O século XX tem a chance de pensar o corpo como a grande vítima da razão. Desfazendo mal entendidos, a filósofa escritora traça um mapa em diálogo com Aristóteles, Platão, Kant, Descartes, Pe Antonio Vieira, Nietzsche, Robert Burton, Beckett e vários outros.