LEMBRANCINHA DO ADEUS

Em Lembracinha do Adeus, terceiro livro de Julio Ludemir, Lambreta, um bandido velho e cansado de guerra, conta suas histórias para Lembrancinha, um menino órfão cujo grande sonho é entrar para o crime. Estão escondidos em uma cisterna, esperando terminar a guerra entre o ADA do falecido Uê e o Comando Vermelho do falecido Orlando Jogador. O morro em disputa é o do Adeus, uma das favelas do Complexo do Alemão - o mesmo que se tornou mundialmente famoso depois do assassinato do jornalista Tim Lopes. O morro em questão, porém, podia ser qualquer um da antiga Cidade Maravilhosa, hoje Cidade Partida. Também não importam as razões da guerra - quando falta um motivo para que essas facções se enfrentem, elas arrumam o que na linguagem do crime se chama de vacilação. A vacilação é um inesperado e surpreendente assalto à boca do Adeus, feito por bandidos ligados ao Complexo do Alemão. Lembrancinha, adotado pela boca do Adeus, jamais aceitou a passividade dos bandidos de sua favela, que até aquele momento não tinham vingado a morte de Uê. Uê foi executado pelos herdeiros de Orlando Jogador em Bangu I, no 11 de setembro carioca. O assalto à boca foi a gota d’água. Revoltado, o menino deu os tiros para dentro da Vila Cruzeiro que serviram de pretexto para que o Comando Vermelho invadisse o seu morro. Lembrancinha fez isso à revelia, mesmo sabendo que a primeira e mais importante lei do morro é manda quem pode, obedece quem tem juízo. Ouvir as histórias de Lambreta é, para ele, o último prazer de um condenado à morte.