Sinopse
Este é um livro sobre as fronteiras interiores do Brasil, sobre os confins que nos separam de nós mesmos, sobre as diferentes e conflitivas espacialidades de nossa expansão interna nesse demorado movimento iniciado com a Conquista e ainda não completado. A fronteira é o espaço próprio do encontro de sociedades e culturas entre si diferentes, a sociedade indígena e a sociedade dita “civilizada”, mas também as várias e substancialmente diferentes facções da sociedade de brancos e mestiços que somos. A fronteira é o lugar da liminaridade, da indefinição e do conflito. Tem sido o lugar da busca desenfreada de oportunidades. Mas, também, o lugar do genocídio dos povos indígenas, no mínimo o lugar de sua redução aos valores, concepções e modos de viver da sociedade que os domina. Tem sido o lugar da espoliação de camponeses que, lenta e secularmente expulsos de áreas incorporadas ao processo moderno de reprodução ampliada e territorial do capital, refugiaram-se na terra de ninguém que separa o mundo civilizado dos territórios indígenas. Tem sido, até hoje, o lugar de renascimento da escravidão por dívida, da peonagem, da disciplina do tronco, da chibata e da morte.