Sinopse
Camilo Pessanha (1867-1926) viveu grande parte da sua vida em Macau, levando aí uma existência discreta, “marcada pela abulia e pela doença, pelo vício do ópio e pelo amor à arte”96. Na metrópole, onde intercala curtas temporadas, os seus poemas circulavam de mão em mão entre os da geração do Orpheu, que consideravam o poeta “uma espécie de figura mítica, aureolada de uma glória de poeta maldito, misterioso, uma espécie de Rimbaud, de quem se sabia que fumava ópio e que se encontrava tocado pelas asas do génio” . Constantemente rodeado por amigos e admiradores, é frequentador assíduo, nas suas estadias em Lisboa, dos cafés e da boémia noturna, não se cansando de dissertar sobre Macau e o Oriente ou de recitar a sua poesia, que tinha por hábito memorizar, negligenciando a fixação por escrito. O seu reduzido conjunto de poemas acaba por ser publicado a instâncias de amigos, no volume que intitula Clepsidra, metáfora da transitoriedade temporal inscrita no correr da água, e que consubstancia o que de mais representativo se fez no contexto do Decadentismo e do Simbolismo na literatura portuguesa.