NOSSA SENHORA DAS FLORES

"Nossa Senhora das Flores", romance de Jean Genet, é tido por boa parte da crítica como a sua obra-prima. Publicado em 1948, bem antes da consagração internacional do autor - garantida por peças teatrais como O balcão e As criadas -, esse texto perturbador, inteiramente criado na solidão de uma cela de prisão, constitui uma autêntica epopeia do mundo marginal. Os horrores que identificam esse mundo são aqui celebrados de modo a lhes conferir uma existência nova, intemporal, poética, sacralizada. Por seu lirismo, por seus personagens apaixonantes, santos e mártires à sua maneira particular, por seu vocabulário suntuoso em que as palavras valem como elementos-chave que sustentam o esplendor barroco do edifício ficcional, Nossa Senhora das Flores opera a transmutação do ato sórdido em festa cintilante sob o brilho de um sol negro. Produto da biografia do escritor maldito e de seu sonho, esse romance conduz o leitor a regiões proibidas, fazendo da transgressão das leis jurídicas e morais um mundo hipócrita um valor exemplar, absoluto.