GODOLPHIN

Profundo conhecedor do ocultismo e das tramas que envolvem os destinos, Bulwer-Lytton aborda nesta obra um dos embates mais dramáticos vividos pelo homem no seu percurso rumo ao aperfeiçoamento espiritual: o abuso de poder, quando se possui um intelecto avantajado, e a consequente frustração oriunda da influência do egoísmo, da ambição e das frivolidades que ocupam o tempo e a mente do ocioso. Fundamentado no “mundo das aparências”, este romance transcorre na alta sociedade britânica do século dezenove, e é narrado pelos próprios protagonistas, Percy Godolphin e Constance Vermon, na medida de seus encontros e desencontros a caminho da ascensão social, permitindo ao leitor o acesso a detalhes instigantes do verniz superficial que encobre uma vida suntuosa, ao retrato fiel do fastio que o prazer e o requinte infligem àqueles que estão condenados a nunca se sentirem satisfeitos com o que a vida lhes oferece. É assim com Godolphin, homem de temperamento poético, idealista, um leviano intelectual e ocioso, marcado pelo ressentimento de uma infância simplória, que foge de casa para trilhar um caminho “mais próspero”. Também é assim com Constance, o amor de sua vida, que é movida por um juramento feito ao pai, no leito de morte: casar-se com um homem rico, ganhar influência social, e vingar-se de seu antigo partido político. Então aparece Lucilla, linda jovem que cruza o caminho do casal. Romântica e igualmente idealista, ela sabe ler nas estrelas e luta intensamente pelo amor de Percy. Inquieto por natureza, e estimulado por um ambiente fútil e alvoroçado, ele passa a viver muitos conflitos íntimos, movidos por dons e aptidões empregados erroneamente e que buscam sempre novas e equivocadas ilusões. Godolphin foi a primeira incursão deste magnífico autor em temas ocultistas, o que lhe rendeu enorme notoriedade como romancista de sua época. É também uma grande possibilidade de aprendizado, a partir das repetidas quedas e equívocos cometidos por personagens que construíram a estrutura de seu caráter em uma base frágil, ilusória e leviana. Excelente romance, inédito em língua portuguesa.