O CONTO DA HIENA

Como assim? Se monstros existem? Eu não acredito que você não prestou atenção em nada do que vem acontecendo esses anos todos! Sim, minha criança, claro que eles existem. Só você não os enxergou, na sua cômoda cegueira. Eles caminham conosco nas nossas sombras. Pisam sobre nossas pegadas. Empurram-lhe no metrô, esbarram em você no elevador, comem no refeitório, fazem barulho quando puxam a descarga. Estão lá fora, nos parques, brincando com seus filhos. Sim. Não é impressão sua! Eles estão na mesa de trabalho ao lado. Preste atenção nos olhos maliciosos. Seguem-nos, espreitam, esperam, salivam. Estão famintos. Os monstros não são pessoas, e sim a sociedade que você mesmo ajudou a construir. Você não questionou, evitou conflitos, questões inconvenientes, verdades desagradáveis. Aceitou de bom grado quando lhe amordaçaram e ataram seus punhos. Então, o monstro se sentiu confortável. Sentou na poltrona de sua sala, ascendeu a lareira, bebeu chocolate quente e se cobriu com um cobertor. Ele sorri, afinal, foi você que o convidou para entrar. Sinto lhe informar: não há mais nada o que fazer! Sirva-lhes carne fresca e aproveite o calor do fogo. Por enquanto, eles estão saciados, mas logo será sua vez. Agora já está tarde, venha se deitar. Vou lhe cobrir e contar uma história para você dormir. Ela começa com um filhotinho...