O VENTO QUE VARRE A CASA
Marcia Matos
(0) votos | (0) comentários
Sinopse
Primeira Estória 1920. Interior de São Paulo. Uma índia laçada por um fazendeiro e levada à força para ser sua mulher. Nunca entrara na Casa Grande. Nunca pronunciara palavra branca. Fora batizada como Maria Cândida. O fazendeiro, que tinha tantas mulheres quanto podia mantinha a índia como sua concubina. E nela fez seis pessoas. A primeira, um homenzinho. Meu avô. Certo dia, ela, após o almoço, pediu às crianças que buscassem água no poço. Cercou a tapera de algum combustível e entrou. Acendeu o fogo e caminhou de um lado para o outro dentro da casa enquanto as chamas consumiam seus longos cabelos e a libertavam do corpo, para voltar a ser ave, peixe, num outro lugar que fosse possível. Com oito anos meu avô assistiu a essa cena quando voltava com balde de água e irmãos menores. À distância necessária para não ser engolido pelas chamas. Grita por socorro até vir gente correndo da Casa Grande para acudir as crianças. Menos ele que não se deixa pegar. Corre por horas até que o corpo desmaie. Atravessa a fazenda para outro lugar e acorda entre tomates. Japoneses lhe perguntando quem era, de onde vinha. Nunca quis voltar. Morou com essa família até os dezoito anos, para quem sempre trabalhou e depois partiu.