A COMPETIÇÃO DE SALTO

O romance de estreia de Juan Pablo Gomes, "A competição de salto", pode ser lido como uma narrativa do fim (da vida, dos amores, da escrita) que sabe fazer uso da incompletude inerente da própria empreitada, afinal de contas nenhuma narrativa pode conter o seu fim, ou seja, seu próprio desaparecimento. Por meio das lembranças de Javier Basoalto – um jornalista de meia idade que, após reencontrar a primeira namorada, passa em reprise sua vida amorosa, antes de optar pelo seu próprio desaparecimento – percorremos diversas cidades e conhecemos mulheres muito distintas entre si. Dividido em dezessete passagens, com oito capítulos, o curso narrativo corresponde aos andares de um prédio ou à descida de um elevador. Javier Basoalto, protagonista e narrador do romance, não narra suas desventuras do ponto de vista do morto, como uma espécie de Brás Cubas redivivo, mas a partir da experiência de quem não pode dar fim a tarefa que se propôs, isto é, escrever uma narrativa como quem desaparece um pouco a cada episódio narrado. [...] Basoalto é um desses cavaleiros que montaram um tempo que não tinha a menor dimensão do que se abria sob os seus pés: o fim do breve século” XX. [por: Kigenes Simas]