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ANAMNESE

Alexei Bueno
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Sinopse
https://www.revistaamalgama.com.br/01/2017/resenha-anamnese-alexei-bueno/===="(...) Na história da literatura, há vários testemunhos de criação imposta, mania, espécie de possessão que ocorre quando o conteúdo mnemónico aflora pelas forças psíquicas, como no famoso dia triunfal da heteronímia de Fernando Pessoa¹, ou mesmo o testemunho de Órris Soares², segundo o qual, Augusto dos Anjos compunha seus poemas de modo inverso, totalmente da memória, a caminhar pela casa recitando antes de escrevê-los.De plenitude lírica e ferocidade satírica, eis o entusiasmo que a poesia de Alexei Bueno tem evocado.Autor dos livros As escadas da torre (1984), Poemas gregos (1985), Livro de haicais (1989), A decomposição de J. S. Bach (1989), Lucernário (1993), A via estreita (1995), A juventude dos deuses (1996), Entusiasmo (1997), Em sonho (1999), Os resistentes (2001), A árvore seca (2006), As desaparições (2009), entre outros, em sua poesia, é possível identificar a defesa da possessão, do entusiasmo.ÊXTASENem o amor, nem as lavrasEternas, posse alguma explicariaTal jorro ardente e exato das palavrasNa alma oca e possessa – fôrma fria.Quem nunca isto sentiu, nunca este fogoBebeu, poeta não foi – borda a impostura.Sem o deus, foi um hábil, soube um jogo –Vedada à humanidade é esta ventura.A árvore seca, 2006É o que vemos neste lançamento – Anamnese (Lacre, 2016).Nas orelhas, Saraiva chama a atenção para o dia triunfal” de 04 de agosto de 2015. Neste dia, o poeta carioca compôs quatro poemas, entre os quais está a bela quadra que evoca a sacralidade da poesia e a imortalidade da alma:AOS POETASSó dos deuses desce.Se não desce, é falsa.Nossa alma só se alçaQuando o dia a esquece.A referência numismática da capa – a moeda com a efígie do deus Jano, com duas faces, uma voltada para frente, outra para trás –, o título, Anamnese, relacionado com as teorias platônicas da origem da sabedoria por meio da recordação e da imortalidade da alma, além de símbolos recorrentes, como as chaves e o espelho, enfaixam o conjunto com o último poema Os esplendores”.SAGRAÇÃOQuando a manhã primeira que não viresNão unir-se ao colar das que tiveste,A um luz delas todas será a vesteDo teu ser, a alva invicta de tua íris.Embora mantenha suas características poéticas – o domínio das formas tradicionais, a celebração da Grécia mítica e a passagem do tempo –, composto sobretudo por sonetos, este livro, em relação aos anteriores, é acerrimamente satírico. É uma revolta santa contra a profanação:ORATÓRIO DE N. S. DO CABO DA BOA ESPERANÇA(Rua do Carmo)Há vinte anos tiraram tua luz.Há vinte anos levaram tua imagem.Esta canalha faz qualquer viagem?Esta gentalha chegaria a Ormuz?Que cada um carregue a sua cruz,É a lei, mas nascer dentro da lavagem,Entre porcos sem nome e sem coragem,Isso a alguma saída nos conduz?Entre os pilares do teu nicho escuroOs mendigos defecam, e, é pior,Copulam, e os sensatos cidadãosRegam de urina, canto a canto, o muro,Depois nos postes, com fundo pudor,Não tendo lenço, enxugam suas mãos.Nas orelhas do livro, Saraiva destaca ainda pungência dessa sátira. Ao reagir contra o idiotismo, a secularização e a barbárie, o poeta reprende de figuras políticas a reles conterrâneos, chegando até a invocar:deuses do mal como Ahriman, a falar num ‘viveiro de frouxos e fantoches’, a denunciar erros e crimes do mundo moderno, a proclamar que ‘a burrice é congênita e incurável’, ou a valer-se, como um naturalista, de nomeações sem eufemismos: canalha, gentalha, matilha, escória, rale…; arroto, flato, fezes…Além disso, destacamos olhar agudo do poeta sobre as manias humanas contemporâneas, como nesta quadra, de uma verve admirável:ACADEMIA DE GINÁSTICAComo incansáveis hamsters em suas rodasEles correm imóveis sob o neonQue os expõe sem pudor às vistas todas,Êxodo sem final, dança sem som.Da referência numismática da capa ao último poema, tem-se a sensação de obra plenamente consolidada. A crueldade de alguns poemas revela a sagacidade de Alexei Bueno contemplando a chegada dos bárbaros. Por outro lado, liricamente o livro transborda ternura nos versos dedicados aos amigos falecidos, como os grandes poetas Herberto Helder e Ivan Junqueira, assim como nas memórias da infância. Com a mesma excelência e requinte dos anteriores, este livro é indubitavelmente o acontecimento para a poesia brasileira!"______NOTAS¹ Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim.” Cf. Fernando Pessoa: Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Autobiográficas. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Lisboa: Europa-América, 1986.² De certa feita bati-lhe às portas, na rua Nova, onde costumava hospedar-se. Peguei-o a passear, gesticulando e monologando, de canto a canto da sala. Laborava, e tão enterrado nas cogitações, que só minutos após deu acordo de minha presença. Foi-lhe sempre este o processo de criação. Toda arquitetura e pintura dos versos as fazia mentalmente, só as transmitindo ao papel quando estavam integrais, e não raro começava os sonetos pelo último terceto.” Órris Soares: Elogio de Augusto dos Anjos. Cf. Augusto dos Anjos – Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996".

Categoria
Editora Lacre
ISBN-13 9788564833319
ISBN 856483331X
Edição 1 / 2016
Idioma Português
Páginas 148
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