O NOSSO CULTO

Escrever este livro foi um desafio singular, mas só compreendi isso quando era tarde demais para desistir. A maior das dificuldades foi a inadequada visão que os evangélicos, muito especialmente os pentecostais, temos do que é liturgia. Um fato de bastidor bem pode exemplificar o que digo. Sempre que dizia a alguém sobre o livro em que estava trabalhando, invariavelmente as pessoas imaginavam tratar-se de um manual de cerimônias. Claro: liturgia, cerimônia. Um binômio indissociável em qualquer contexto cristão, mas que em nosso próprio é uma condição quase circular. A surpresa geral é descobrir que o estudo da liturgia apenas começa na descrição dos rituais. A parte mais simples do estudo litúrgico é a organização da cerimônia em si. Para tanto existem os manuais que indicam os hinos, as passagens bíblicas e o quando de cada um. Mas a doutrina litúrgia é feita de muito mais que isso. O estudo do culto cristão é mais amplo, muito mais. Não era para nos admirarmos com o fato de a ciência da adoração ter uma face histórica. As considerações históricas sobre a liturgia são uma etapa importante e larga deste estudo, porque é natural indagar sobre a origiem das coisas. É quando o estudo das liturgias se apresenta para além do formato e vai aos séculos que o forjaram. É tão importane o contexto histórico das liturgias que o Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo, em Roma, mantém a disciplina História da liturgia através das épocas culturais. Mas a palpitante história do culto não dá fim à doutrina litúrgica. Restritos à forma, nos tornamos legalistas. Apegados ao tempos, tradicionalistas. Aprisionados por ambos, não fazemos culto, oficiamos reuniões. A terceira das partes de estudo sobre a liturgia é seu sentido teológico. Em busca deste, pelo estudo comparativo, não quer saber o que fazer ou como se fez, mas porque se faz de uma forma e não de outra. Trata-se de busca pela justificativa bíblica, pelo senso teológico, para que a Igreja não se apegue a tradições, mas se firme na Palavra de Deus. Somente assim a liturgia cristã pode alcançar o seu objetivo que é a propiciação de um ambiente em que o homem possa encontrar-se com Deus, não pelo rito em si, mas pelo que ele provoca no ser humano, mediante a livre atuação do Espírito Santo. Não que a liturgia seja fundamental na economia da salvação, mas é inegável sua importância para a comunhão entre os cristãos e o Senhor.