Sinopse
Lindoso concebeu seu romance sob um valor estético: o tempo. O tempo literário, ou o tempo humano, próximo aqui à ideia de duração de Bergson: um fluxo contínuo, oposto ao conceito físico do tempo. Dois personagens, um velho e um menino, são os responsáveis por esse fluxo, pelo halo sugestivo de inúmeras vidas, inúmeros acontecimentos. Eles estão na praia, incrustados na paisagem; a existência social e humana do povoado vem, supostamente, através deles, de sua mente, que atua "o corpo do tempo", como diria Virginia Woolf. A narrativa é uma longa montagem de episódios, ações, monólogos, reflexões. A técnica do ponto de vista (a partir do velho e do menino, como solução orgânica) nos parece nova, sob novo aspecto: o velho e o menino na praia, as longas divagações, a presença de uma cachorra, um peixe morto, as ondas que se quebram em ritmo eterno, os urubus -- o fecho do romance é a morte do velho, a presença do menino, a conclusão de alguns episódios apenas sugeridos, o tempo em duração na mesma paisagem imutável. [...] Haverá coisa demais nesse caleidoscópio da alma nordestina, onde ressuma a dimensão mítica de um povo, numa verdadeira colcha de retalhos?