Sinopse
Minha Júlia, um conselho de amigo;Deixa em branco este livro gentil:Uma só das memórias da vidaVale a pena guardar, entre mil.E essa nalma em silêncio gravadaPelas mãos do mistério há-de ser;Que não tem língua humana palavras,Não tem letra que a possa escrever.Por mais belo e variado que sejaDe uma vida o tecido matiz,Um só fio da tela bordada,Um só fio há-de ser o feliz.Tudo o mais é ilusão, é mentira,Brilho falso que um tempo seduz,Que se apaga, que morre, que é nadaQuando o sol verdadeiro reluz.De que serve guardar monumentosDos enganos que a esprança forjou?Vãos reflexos de um sol que tardavaOu vãs sombras de um sol que passou!Crê-me, Júlia: mil vezes na vidaEu coa minha ventura sonhei;E uma só, dentre tantas, o juro,Uma só com verdade a encontrei.Essa entrou-me pela alma tão firme,Tão segura por dentro a fechou,Que o passado fugiu da memória,Do porvir nem desejo ficou.Toma pois, Júlia bela, o conselho:Deixa em branco este livro gentil,Que as memórias da vida são nada,E uma só se conserva entre mil.