Sinopse
...leitoras e leitores apertem os cintos, pois o percurso é longo, a área de turbulência e o vôo de alto risco... mas a rota e o destino valem a pena!Andrea Paula dos Santos pilota com competência a navegação pelas desconhecidas rotas de uma associação de mulheres pobres que escolheram como simbolo Carolina Maria de Jesus. Para viajantes distraídos ou desmemoriados, o serviço de bordo informa que Carolina Maria de Jesus foi aquela favelada negra que sacudiu o Brasil nos anos sessenta, dessando os avessos do desenvolvimento otimista com seu Quarto de Despejo. Quem se lembra disso? Ana, Cecília, Luiza, Penha, Verônica e Marlene lembram, inventam lembranças, reescrevem a história. E nessa reescritura dão sentido à vida e à obra de Carolina. Resgatam Carolina e sua obra no nome de sua associação, símbolo de sua luta. Qual luta? Ora, a mesma luta de Carolina Maria de Jesus, que queria, como estas Carolinas de hoje, uma forma mais integral de vida, uma cidadania mais completa, uma identidade feminina menos mutilada. Com o que, aliás, todos ficamos sonhando ao final da viagem, ao som das vozes que Andrea orquestra, cuja polifonia torna o leitor mais leve e mais sábio, marcado por aquela sabedoria e leveza que só as boas obras patrocinam. Leveza de um trabalho de História que não abafa a história de seus narradores: antes a realça, ao desobstruir os canais para que ela ressoe. E sabedoria de ir buscar no miúdo, no dia-a-dia, e até na contramão, a História, que, sem tais cuidados, poderia passar despercebida, naufragada numa história minúscula, apesar da abrangência das categorias convocadas e das sínteses prometidas. Daí a turbulência, daí os riscos da viagem, Mas daí - também e sobretudo - a beleza da viagem, de seu itinerário, de seu destino.